[+18] Branca de Neve

Por Antonio Fernandes

A garota loira tinha pele transparente, branca como a neve, mas nem por isso pura.
Sentava uma cadeira ao avesso com pés cruzados sobre a mesa.

Lia Bukowski, entre uma golada de Fée Vertee e tragada de rolo de fumo. Seu espírito ecoava a cena. Sua alma era um poço tão fundo, que suas tendências suicidas já haviam cogitado saltar em si mesma.
Riu. Seria ainda pior que a morte afundar em si mesma, tamanha a profundidade daquele poço. Mas não é que era uma boa ideia?

E pulou.
Caia indefinidamente. Estranha ironia, como uma Alice à buscar o país das maravilhas. Mas aquilo que ela buscava era um pouco mais trágico que as maravilhas. Era um poço com tantos tormentos, tesões, excitações, vontades, corpos suados, pó, pó dos livros, pó de ópio, pó de coca. Baseados e aventuras bem além da ilusão.

Chegou ao fundo.
Não pense você que teria sido rápido. Ela levou ainda uns instantes a mais que esperava. Puf! Lá estava.

Caiu num saguão com sete portas. Um secretário de óculos armações redondas era a única coisa viva no lugar. Anotava coisas aleatórias em pergaminhos envelhecidos. Bom, talvez fosse apenas papelão. Nunca podia saber quando estava sendo apenas superficial ou realmente sábia.

-Quem...

-Shh! Olhe e decida.

Ela pegou. Claro que pegaria, idiota. Era o secretário da sua própria mente. Olhou as portas. Algumas tenebrosas, pareciam levar a lugares horríveis. Outras ainda mais tenebrosas, pareciam levar a lugares piores ainda. Uma porta branca dourada, pequena e inocente, se destacava simples das demais.

A mais perigosa de todas, percebeu.

Pois sim. Já sabia onde entrar.


Andou em direção a porta. Num relance olhou pra trás, apenas para ver o garoto da escrivaninha olhando-a com o canto dos olhos. Se endireitou. Não podia mostrar fraqueza para si mesma.

Apertou a maçaneta, girou a porta e abriu.

Agarraram sua cintura. Foi lançada numa parede. Alguém arrancava-lhe a calça. Metiam-lhe um membro entre as pernas e logo estava sendo estuprada. Era forte. Era bruto. Marcava-lhe a carne branca com tapas que mais que vermelho, deixavam-lhe roxa. E comia. Ela gritava por ser comida, amava ser comida, mas então foi obrigada a agachar-se. Percebeu suas mãos amarradas, e logo meteram-lhe aquilo na boca.

Olhou seu agressor. Era ele, o garoto da escrivaninha. O garoto da sala das portas, mas como? Como ele fora tão rápido? Não podia mais pensar. Chupava-o com força. Chupava-o com vontade, querendo que gozasse logo, mas era impossível. O garoto ria da sua cara, dava tapas na sua face, chamava-lhe cachorra e não dava mostras de enfraquecer.

De repente havia outro, mas era igual ao primeiro. Era seu irmão gêmeo? O segundo meteu-lhe o pau na boca, e lá estava ela, amarrada, algemada, obrigada a chupar os dois.

E rezava. Rezou por tempos, obrigada a aquilo. Então gozaram ambos sua face.

Um ódio profundo se desenterrou da sua alma, queria mata-los. Queria morder-lhes os membros e arranca-los. Queria prende-los no carro e deixa-los ali pra sempre. Ódio, era tudo o que sentia. Desgraçados, iria meter-lhes um fio terra. Rá se iria!

Um deles a empurrou, e caiu face ao chão. Abriu os olhos transtornada e viu: Pó. Havia pó no chão. Não como se houvesse uma carreira, mas todo o chão era pó. Estava coberto de pó.

Agarraram-lhe os cabelos e a fizeram cheirar. O tesão a inundou. A energia a inundou junto a um ritmo contagiante. Tudo se apagou. Sentia como se estivesse trepando, dançando, pulando, gozando, tudo ao mesmo tempo.

Mas a sensação não passava. Não era como gozar e relaxar, era um gozar eterno, e logo se cansou daquilo. Sua mente se cansou, mas seu corpo não. Ela continuava a meter, continuava a gozar, mas não suportava mais. Perguntava a si mesma o que a mantinha naquele estado. O que a fazia continuar e continuar. Não havia escapatória, e logo metiam-lhe outro pau na boca. Por que meu Deus?! Porque?!

E desabou.

Caiu exausta. Viu flores vermelhas e roxas crescendo na terra. Flores que mudavam de cor. Flores que cresciam até se transformarem numa folha que mais parecia uma mão.

Arrancou-a e enrolou. Fumou-a e então a paz veio. A calma veio. Veio a superação e tudo acabou.

Dormiu o sono dos justos. Dormiu por horas a fio. Acordou em meio a risadas, bateu o pó da roupa, e dirigiu-se novamente á porta.

Saiu da porta branca, mas teve o trabalho de tranca-la. Caminhou até a base do poço, para subir as escadas e voltar a sua mente. Ia subindo os primeiros degraus quando se lembrou de algo.
Olhou para o garoto da escrivaninha:

-Qual o seu nome?

-Merlin. - Ele diz.

Ela sorri. Era bom que assim fosse, seu mago outra vez.

Subiu as escadas e voltou a consciência.

Mais alguns momentos na mente de Viviane Joslin.

Bem na loucura, você diz. Bem na loucura, confirmarei.



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