A Praga

Por Antonio Fernandes



Num fim de tarde desses, foi visitar o museu um rapaz. Não podia-se dizer bem que era um museu, sendo na verdade um castelo. Não se podia dizer também que fosse um rapaz, já que havia cruzado seus trinta.

O dito museu era uma construção bárbara do sul da Escócia. Contava a história de um certo Conde famoso por empalar inimigos nas estradas para assustar estrangeiros. Famoso também por arrancar cada centímetro da pele dos que se opunham a ele, sem contudo deixar que morressem. Seus soldados usavam em frente aos escudos, couro da pele de prisioneiros vivos enquanto matavam.

O rapaz não tão rapaz não estava ali porém, pelas histórias. Tivera a poucos instantes a ponto de travar uma luta real. É que vinha viajando com amigos, numa daquelas viagens boas de planos e péssimas nas aventuras. Onde o azar e a maré sobem de lua. E que contenda! vinham os três se desentendendo entre voos perdidos, hotéis alugados não alugados, um furto de passaporte e um trem errado.

Já não era a primeira discussão e sabia, nem seria a ultima. Ainda assim ainda restavam duas semanas. Duas malditas e sofridas e arrastadas semanas.

Escutava entre ouvidos e pescava o que dizia o guia. Percebeu que falava agora sobre boatos de que a esposa do senhor do castelo fosse ligada a tradições de ocultismo bretão. Algo sobre sacrifícios de humanos e animais, que a planta do castelo era um pentagrama e como havia ali uma linhagem secular de gatos pretos.

Não escutava porém exatamente o guia. Sua mente fervia de argumentos, contra argumentos, razões, intenções de vingança, e muita vontade de enfiar uma faca funda na barriga do desgraçado.

Quando deu por si. Estava sozinho. Caminhara a esmo e se perdera do bando de turistas chineses com câmeras e sorrisos falsos. Havia silêncio e corredores vazios. Escadarias em espiral. Becos que davam em novas escadarias. Espaços apertados e corredores largos. Salas vazias e salas cheias de artefatos, armaduras nas laterais. Muitas facas em prata. A grande cabeça de um lobo cinzento empalhada sob um arco. Mas nem sinal de vozes e nem de pessoas.

Começava a ficar irritado com aquilo. Pronto. Não bastava tudo ter dado errado, havia se fodido de novo. Pela milésima vez tudo dava errado.

No fim dum corredor depois de uma curva viu luz. O clarão alaranjado de um sol que se põe. Caminhou a passos largos apressado e sorrindo de alivio. Dali poderia pelo menos ver fora do castelo e encontrar algum segurança que lhe tirasse dali.

O corredor porém, que recebia o sol poente completo, levava a uma varanda triangular. Na ponta fora do triangulo, uma estátua de morcego da altura de um homem adulto sorria para os que chegavam. A boca do morcego era um buraco oco, onde o rapaz podia perfeitamente observar o sol se pondo à oeste nas montanhas nevadas.

ficou contemplativo observando como o sol laranja iluminava a entrada do castelo atravessando apenas e tão somente a boca oca do morcego. Assistiu lentamente o laranja desaparecer no horizonte, bem como sentiu o calor deixar seu corpo e o frio da noite se chocar contra sua face quando como se nada, tudo fosse escuro.

No breu, observou com mais atenção a estátua. As duas asas levantadas davam a ela um tom agressivo. Presas grandes de uma boca aberta como quem ataca. Os olhos cinzentos pareciam mirar diretamente dentro do seu ser.

Aos pés da estátua, a inscrição Omnia Cinis Aequat gravada na pedra.

Lembrou que estava perdido, chegou à beira da varanda para procurar alguém abaixo. Frustrado. A sacada dava diretamente para um precipício. Muitos metros abaixo um rio forte fazia barulho enquanto seguia com força para norte.

Foi até a estátua, caminhando devagar, intrigado. Quem teria inscrito a frase e porque. O que aquilo significava. Tentou se lembrar do que falava o guia. Rituais sobre sacrifícios humanos e antropofagia. Comer da carne do inimigo para ter da força dele consigo. O morcego. Tocou na face da estátua.

Sentiu um arrepio gelado atravessar a extensão do seu corpo. Como se ela lhe dissesse todas as coisas que aconteceram ali ao longo de séculos. Toda a história de dor e de terror. Como se o passado lhe cortasse pelo corpo e cruzasse sua alma por inteiro.

Correu. Virou de costas e correu. Se embrenhou em corredores escuros. Subiu e desceu escadas sem saber onde iria dar. Nas paredes, Muitas criaturas empalhadas. Cervos, javalis, lobos. Cabeças humanas. Olhavam para o rapaz que cada vez ficava mais desesperado.

Num dado momento, luzes começaram a aparecer. Ouvia vozes, apesar de não perceber de onde vinham. Virou um corredor e esbarrou de frente com um de seus amigos. Caíram os dois no chão.

O outro começou a praguejar. Gritar que haviam perdido o ônibus por sua causa. Que a arrogância dele estragava tudo. Que ele precisava fazer pirraça e entrar no museu mesmo que já fosse fechar.

Não conseguia escutar. Seu corpo estava em transe do que passara. Não sabia mais nem se havia sido real. Cabeças com cabelos pretos penduradas nas paredes empalhadas. Pentagramas invertidos em mandalas pelas paredes. Tentava se lembrar mas parecia que saído de um sonho.

De repente voltou a realidade, escutava o que o outro dizia e do medo foi tomado por uma furia colossal. Retrucou. Discutiu. Esbravejou.

O outro gritava mais alto. Gritava mais forte. Foi caminhando lentamente de costas ouvindo insultos e mais insultos. Pessoas deviam estar ouvindo aquilo de toda a extensão do lugar. As paredes ecoavam De repente seu amigo o empurrou. Empurrou de volta. aumentou o peito e abriu os braços. Recebeu outro empurrão. E outro. No terceiro, tropeçou.

Caiu da escada. O olhar azul do rapaz a sua frente saltaram de ódio para arrependimento. Mas era tarde. Sentiu o corpo se perder no vazio e despencar. Bateu forte o ombro. Rolou por cima de si. Bateu com a cabeça contra a parede. Torceu a perna e quebrou, sentindo estalar. Por fim acertou numa quina de concreto e apagou. Tudo ficou preto.



O jovem de olhos azuis estava em choque. Olhava o amigo sem movimentos caído muitos degraus abaixo. Estava congelado. Petrificado. Ouvia uma voz distante gritando seu nome. Ainda assim continuava com olhos fixos no outro. Caído. Será que estava morto?

A voz chegava mais perto. Alguém encostou no seu ombro. De repente a voz parou. O terceiro amigo levou alguns segundos para perceber o rapaz apagado nos pés da escada. Desceu correndo. Chamou pelo nome. Bateu no seu rosto. Chorava. O outro de olhos azuis olhava tudo de cima abismado. Quando empurrou sentiu um arrepio cortar sua espinha atravessar seu ser. Viu corpos em carne viva gritando, lanças sendo enfiadas pelo cu e atravessando carne vísceras e órgãos. Viu sorrisos de dentes podres. Sabia que ele estava morto. Tinha certeza. Uma certeza quase sobrenatural.

O outro, mais a baixo, gritou em confirmação. Falou que ele o havia matado. Que a culpa era dele. Que os dois seriam presos num país estrangeiro porque ele era um babaca estúpido que não sabia escutar. Subiu as escadas e o empurrou com os olhos de lagrimas e a expressão de ódio.

Tomado de furia socou o terceiro na cara. Sentiu o nariz do jovem rachar e quebrar. Sangue jorrou do nariz enquanto os dois se derrubavam no chão e trocavam chutes e socos. Encontrou uma peça de bronze com as mãos em meio a confusão e usou para acertar o outro na cabeça. Livre, levantou e deu nele um chute forte na barriga.

O jovem, ensopado de sangue do nariz e sem ar, levou uns segundos para se recuperar. Se levantou e se jogou no peito do outro. Caíram os dois no chão. O terceiro pegou ele agora a peça de bronze. Sentiu um arrepio cortar a espinha. Cenas de mulheres vestidas de preto sob a lua. Um homem com cabeça de bode. Pessoas bebendo sangue. Uma faca de prata. Uma faca de prata na parede. Pegou a faca e enfiou e golpeou a barriga do outro repetidas vezes. Viu a vida esvair daqueles olhos azuis. Seu amigo petrificado o encarava enquanto tinha a vida arrancada de si.

Estava ensopado de sangue. Sangue de tripas e carne pelos braços e pelas roupas. Sangue de si descendo pelo nariz e sujando o rosto. Olhou para as mãos, viu a faca. Soltou e começou a chorar.


O guia turístico virou o corredor, com o bando de japoneses com câmeras e sorrisos falsos que se apagaram e vozes que se calaram.

Sirenes. A polícia chegou. Um policial de rosto quadrado escocês foi o primeiro a lhe encostar. Colocou a mão em seu ombro e falou qualquer coisa que não se lembra. Foi algemado. Sujo de sangue, baixou a cabeça e entrou na viatura.

Desceram o morro pedregoso que levava até o castelo em forma de estrela. A condessa bruxa. O conde cruel.

O jovem banhado de sangue não sabia o que pensar. Não sabia porque pegou a faca. Não sabia porque fizera aquilo. Nada fazia nenhum sentido. Suas mãos tremiam. Continuava em choque como quando vira seu melhor amigo morto nos pés da escada. O outro, que nem deveria estar na viagem, não fez nada e deixou ele morrer.

O policial atendeu uma ligação. Escutou meio distante sentado de mal jeito como estava no porta malas. Parecia enraivecido. Falava sobre seu filho. Sobre seu irmão. Repetia várias vezes "mulher" então parecendo conversar com sua esposa. De repente começou a dirigir mais rápido. Fazer curvas fortes. Gritou qualquer coisa como estupro. Sobre matar.

Uma carreta acertou a viatura na lateral atravessando um cruzamento. O carro foi arremessado na esquina. O jovem no porta malas quebrou com a cabeça o vidro de trás, voou pelo menos trinta metros e se chocou contra um muro. O que restou dele estava irreconhecível.




Seu irmão estuprado seu filho. O policial quase que não era capaz de acreditar. Seu irmão. Seu filho de sete anos. O garoto já vinha tendo comportamento muito esquisito por semanas. Ele e a esposa achavam que pudesse estar sofrendo bullying na escola. Mas isso? Era demais. Era demais mesmo. Era inimaginável.

E antes da esquina, antes de ver a carreta, antes de furar a placa de stop sabia o que ia acontecer. Um arrepio cortou seu corpo. Sentiu a presença da morte como quem lhe sorrisse. Teve a premonição de tudo segundos antes.

Enquanto via o carro cruzar a rua e se chocar contra um muro a sede de vingança tomou conta de si.

pedaços de vidro rasgaram partes do rosto. Sangue por toda parte. Olhou para seu parceiro mas ele parecia bem. Olhou para trás e o moleque havia desaparecido.

Pensou primeiro que pudesse ter fugido. Saíram os dois pelo banco do passageiro. Logo viu uma aglomeração na rua circulando restos que haviam sido daquele garoto estrangeiro.

Sem dizer ou avisar, saiu caminhando. Seu parceiro, focado em cuidar da situação, só notou seu sumiço instantes depois de desaparecido.

Caminhou três blocos, virou a direita e andou mais dois. Percebeu pelo menos quatro quadras depois que já havia sacado a arma e que os passantes atravessavam a rua e o olhavam com cara de assombro.

Chegou no portão da casa do irmão. Pulou o muro e arrombou a porta com o pé.

O irmão estava abraçado com seu sobrinho assistindo qualquer coisa na televisão. Gritou que ele havia estuprado seu filho.

O irmão se defendeu. Disse que não havia feito nada. Que não estava entendendo nada da situação. Isso o deixou com mais raiva. Bateu repetidas vezes com a coronha da arma na cabeça do outro.

De repente seu irmão reagiu. Pulou em cima dele. Os dois começaram a lutar. Trocaram socos. Caíram no chão. A arma girava de um lugar para o outro e a criança por perto gritava e começou a chorar. A arma caiu no chão e os dois lutaram para chegar até ela. De repente, um tiro.


O policial estava deitado no chão. Os olhos fitando o teto, vazios. Seu irmão o olhou morto e sentiu a espinha tremer e estremecer. A cólera, o ódio, a dor. O que era aquilo? Viu uma cabeça de bode, espíritos que circulavam e dançavam. Figuras negras que não tinham rostos, apenas sorrisos podres. Olhos claros fitando do vazio. Sombras que se moviam e se apegavam. Demônios que cantavam e dançavam negros enquanto pessoas recitavam em latim o livro de um Papa caído.

Tremendo, sujo de sangue, ligou para a esposa do outro. Entendeu o mal entendido. Ele havia dito algo que não havia dito e dado a entender algo que não era. O menino vinha sofrendo com os colegas, e ele havia brincado com o menino de uma forma que não deveria ter brincado. Ele disse em casa coisas que deixaram a mulher preocupada. O irmão achou que ele havia feito o que ele jamais faria.

Tomado de remorso, entrou no seu carro e dirigiu. Iria para o lugar mais isolado e remoto que conhecia. Ele e os amigos brincavam nos bosques do velho castelo mal assombrado quando eram pequenos. Sempre morrera de medo de entrar lá. Mesmo quando um senhor velho morreu, e o castelo foi herdado pelas terras do condado e se tornou museu, não tivera coragem de entrar lá.

A lua já ia alta. Suas mãos tremiam no volante. O remorso comia suas vísceras. O museu já estava fechado, de modo que entrou escondido pelo mesmo lugar de quando eram crianças.

Subiu a colina por trilhas no que devem ter sido horas. De repente estava parado no grande portão.

Por alguma razão estava aberto, e entrou. Caminhou devagar pelos corredores frios de pedra. Cabeças de animais empalhadas. Facas, espadas e machados pendurados pelas paredes. Salas  vazias. Salas cheias de coisas estranhas.

Viu a cabeça empalhada de uma mulher. Era linda, com cabelos pretos lisos e traços finos e delicados. Os olhos de vidro pareciam fitar o além e ver histórias que não se deveria contar. Outras cabeças empalhadas pelos corredores. muitas ruivas, alguns louros. As humanas pareciam irreais, como se não fossem de verdade. As de lobo e javali eram assustadoras.

Subiu escadas, desceu escadas. Cruzou corredores apertados. Virou esquinas.

De repente, viu uma luz. O sol vinha nascendo. Parecia cruzar toda a extensão do castelo. Do lado oposto ao sol nascente, viu um arco.

A luz que cruzava o castelo dava numa grande estátua branca de morcego. O sol nascia precisamente de modo a atravessar os saguões de entrada e atravessar cômodos e corredores diretamente naquele lugar. Algo o atraiu e parecia que estar ali seria o certo.

Uma varanda triangular, uma estátua de morcego de asas erguidas e uma boca oca, com presas grandes. Abaixo inscrito em pedra Omnia Cinis Aequat.

Seu irmão. Com quem brincara tantas vezes naquela floresta, estava morto. Pensava que havia estuprado seu filho. Suspirou. Lembrou do garoto nu, do choro, do prazer. Lembrou da necessidade incontrolável de fazer o que havia feito. Percebeu como repeliu aquele pensamento como quase que o fazendo desaparecer.

E sua bestialidade havia matado seu irmão, a quem ele mais amava no mundo. Se sentia um monstro por ter estuprado o filho de alguém que tanto amava. A dor da confusão, do prazer e do ódio. As sensações e a incapacidade de se controlar. Não conseguia mais viver com aquilo que era. Nadar contra sua própria natureza. Lutar contra si.

Subiu no parapeito da varanda, apoiou na grande cabeça do morcego e sentiu um arrepio na espinha.

Olhou as montanhas que eram iluminadas pelo sol que nascia

E deixou o corpo cair.


Omnia Cinis Aequat - A morte tudo nivela








Comentários

  1. Ao ler, parece que o personagem tinha uma propensão a deixar se dominar pela bestialidade, que acabou tomando conta do seu ser. E assim porque ele vinha se demonstrando bastante negativo com a "viagem boa de planos e péssimas nas aventuras ", devido as frustrações vivenciadas com seus companheiros. Porém, parecia ser hábito reclamar, e ser negativo.
    Em uma sequência de fatos não favoráveis, ele se perde ao dar ouvidos a sua mente, que estava perturbada por pensamentos de raiva e ódio; no entanto, o único momento de quietude e paz, que parece que o personagem sentiu, foi ao contemplar o céu laranja, ao ver o sol se pôr.
    Tal passagem chama atenção pelo fato de, mesmo vendo a grande estátua, o encanto da paisagem foi maior, levando-o a uma imersão, num sentimento de quietude contemplativa, uma paz trazida na nitidez da paisagem, calma e um tanto "confortante", que aos poucos foi se esvaindo, levando consigo o único momento que o personagem se sentiu tranquilo, face as adversidades e pessimismo que vinha vivenciando ao longo de sua viagem.
    A penumbra "quebrou o encanto" contemplativo do personagem, levando-o a frustração da realidade, e o ponto de virada foi quanto este tocou a estátua.
    O espirito dele não pareceu ser mais dele, e isso porque, conforme a sequência da leitura, ele se tornou uma personificação das energias negativas do lugar, ao reagir aos acontecimentos como se fosse por arrebatamento: a cegueira da fúria, e o despertar do arrependimento.
    Talvez, a sua própria natureza não era a que ele manifestava, por estar controlado por forças ruins. Talvez o seu eu, habituado a reclamar a ver o lado negativo das situações, fosse apenas uma forma de auto-defesa de um ser humano amedrontado diante das adversidades da vida, daquilo que não possui controle.
    A passagem do livro, "Memórias do Subsolo", traduz minha percepção do personagem quando ele contempla o horizonte laranja, quando recobre a consciência dos seus atos e fica numa profunda tristeza e arrependimento e, numa tentativa desesperada da fuga de si mesmo, volta ao lugar onde tudo se iniciou.
    A passagem do livro mencionado:
    "O caso todo, a maior ignomínia, consistia justamente em que, a todo momento, mesmo no instante do meu mais intenso rancor, eu tinha consciência, e de modo vergonhoso, de que não era uma pessoa má, nem mesmo enraivecida; que apenas assustava passarinhos em vão e me divertia com isso. Minha boca espumava, mas, se alguém me trouxesse alguma bonequinha, me desse chazinho com açúcar, é possível que me acalmasse. Ficaria até comovido do fundo da alma, embora, certamente, depois rangesse os dentes para mim mesmo e, de vergonha, sofresse de insônia por alguns meses. É hábito meu ser assim [...]"

    "A morte tudo nivela" - Será?

    Gostei da crônica e eu pego viagem em tudo que leio kkkk

    Rach.

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