Werewolf

Por Antonio Fernandes

Chove
e chove gelado
chovem gotas negras pesadas
chove de alagar tudo
dos rios arrastarem troncos inteiros
sinto a água de pele
sentindo-me vil, humano
sinto carne sinto ser
sinto a ausência da besta
está noite
a lua vai soterrada de nuvens
minha parte inteligível minha parte
gente
quer se libertar da fera
sou desses
desses que na luz é inteligente
racional
fala coisas bonitas e que se pode crer
desses que faz coisas em que os outros
acreditam e podem acreditar
nas noites porem
sou só fera
transformo-me em algo irascível
desnutrido de razão e que não se importa
com sentimentos dos outros
ou pelo que faz
rasga a pele do peito e destrói
todos os que puder encontrar
é estranho tentar domesticar
este ser
esta razão mitificada irracional de mim
que quer drogas quer sangue quer bocas
quer comer tudo que houver para comer
destruir tudo acabar com tudo
uma criatura mágica e uma criatura cruel
pessoas tem fascínio pelo misticismo
elas se encantam pela mágica
das bestas que rondam a noite espreitam
a calada das festas
elas anseiam pelo perigo e pelo medo
sei bem como inspira-los
aterrorizei pessoas o suficiente
também estripei-lhes o coração
destruí suas almas

não os fiz por vontade
não os fiz com prazer

é que a bestialidade se conserva em mim
quando a lua vem
trancado agora em jaula
vendo a lua surgir sem poder fugir
sou uma besta engaiolada
um destes lobisomens que
decidem por si só se trancar para poder crescer
sou Lupin
não é fácil, voce sabe
ser Lupin
a natureza do lobo é destruir e a natureza
do homem construir e sinto como se
fosse castrado minhas bolas arrancadas
o meu próprio pau cortado fora com
sangue esguichando e eu uivando gritando
berrando urrando de dor
mas a chuva para
a lua se põe
o sol nasce
o sol cresce
o sol vem vermelho sardento e com um sorriso de covas
e eu sorrio
e sou homem novamente
todas as noites mordo a jaula
todos os dias acordo com o sorriso
do amor, que amo que me amas que quero amar
sempre contente, pra sempre
e espero que o beijo
de princesa
possa tal hora
quebrar
quem sabe
a maldição
que carrego