[+18]Pasta com Carne
Por Antonio Fernandes
Sentou-se sozinho a mesa. Era bom que assim fosse.
Havia preparado o circo de forma exemplar.
Para beber, uma garrafa portuguesa "Periquita". Sacou a rolha em três lances e viu a bebida cor rubi deslizar suave taça adentro. O aroma dominante, frutado e forte assaltou o ambiente.
Provou.
Forte. Precisava respirar, já esperava por isso e abriu a coroa de entrada.
Havia levado 28 minutos. Podia recordar o braço de vapor de quando a penela havia finalmente refogado. O molho quatro-queijos quando de prova, fumegante estava exímio. Penne.
Garfou logo três inteiros e devorou-os à boca. Êxtase.
Comeu lentamente. Ao meio da refeição julgou o vinho justo, bebericou e aprovou, apesar de ainda não ser sua hora.
A taça teria de esperar.
Os sabores da pasta explodiam em suas gustas palativas. Era belo. Podia imaginar os agricultores argentinos cultivando o trigo, os processos de produção, a embalagem, o momento em que escolheu-o ele próprio ao supermercado. Todo o processo impecável como havia de ser.
Terminou. Devorou dois ou três pães com patê Fois Grais. Bebeu do copo d'água para limpar o paladar. Água fresca. Não estupidamente gelada para agredir seus sentidos, mas fresca, fria, divina.
Levantou e dirigiu-se novamente a cozinha. Vinte dois minutos. Estava pronta. Retirou-a da brasa e apreciou. Prime Angus, corte de picanha. Salgada ao sal grosso, de cor dourada e brilhante deixando a camada ideal de gordura a borda: meio dedo.
Partiu a ponta. Por dentro vermelha rosada, salpicada com certas gotas ainda escuras de sangue.
Perfeita.
Levou-a à mesa hipnotizado com o aroma forte. Espécie escocesa crescida nas pradarias gaúchas. Os grandes chefs sempre disseram que dariam uma das mãos por um bovino melhor. Os Angus cultivavam o hábito de ter suas carnes macias, entremeadas de gordura e músculos, tornando cada pedaço seu especial.
Num novo prato colocou a peça inteira e tragou todo o nirvana especial do odor. Trezentas e vinte duas gramas. Uma obra de arte.
Ao lado já preparado, arroz à Piamontese aguardava resoluto. Era o acompanhante ideal. É justo que um grande cavalheiro seja acompanhado por uma bela dama, resta-nos saber quem seria cavalheiro, quem seria dama.
Agora assim, o vinho. Bebericou da boa taça arrefecendo o paladar. A força do tinto exprimiu suas gustas patativas, terrivelmente molhadas. Garfou certa dose de piamontese, partiu um pedaço gordo de carne, tragou-a.
Era forte, macio, salgado. Era doce, encorpado, sedento. Era Angus. A dama mais vil e cruel que já pastou na terra. Uma amante sórdida e ninfomaniaca. Cavalgava sua boca com pele dourada e cabelos negros. Olhava-o com olhos cruéis de quem iria dar-lhe até a última gota de vontade. Os cabelos negros saltavam junto ao cavalgar envolto em tesão e êxtase impondo sua vontade. Era escravo dela. Objeto dela. Fazia-lhe todas as suas vontades. Era carne e paixão.
Engoliu. E foi como gozar. Uma gota de sangue escorreu-lhe ao queixo e em rápido gesto lambeu-a.
Deu-se alguns minutos para se recompor. Em olhos compenetrados fitou nada, mau ousando memorar a sensação. Mau ousando rabiscar vontade.
Mas como um tolo preso aos vícios, tolo foi para garfa-la em riste e bastou traga-la para ser novamente espancado.
Agora ele à metia-lhe de quatro. Tal corpo dourado que o hipnotizava. Ela revolta revolvia-o. Sentia seu membro ser tragado, engolido por ela. Não comia, era comido. Ouvia-a rir e gemer como de uma vez só. Estava paralisado, e as únicas sórdidas forças que saiam de dentro de si eram as suficientes apenas em estapeá-la.
Engoliu.
Colocou as mãos a mesa não aguentando mais. Era muito. Lutou contra a vontade vendo a peça de carne ainda inteira no prato. Lutou, gemeu, chorou. E então se decidiu em acabar com ela.
Comeu-a com força. Agarrou-a à parede. Comeu-a de pé. Fe-la gemer. Jogou-a no chão e comeu-a ali. Deitada. Era pura. Dourada. Era linda. Digladiou cada pedaço dela. A ninfa. Cada membro. De repente não era mais no quarto, era selva. E ensandecida revidou. Não mais uma, eram três. Chupavam-no e beijavam-no. Cavalgavam-no. Mas corajoso foi e atentou à última de suas cartas. Chupou-as as três. Chupou-as inteiras. Até o mais vil covil recôndito de seus úteros. Fez com que gritassem, chorassem, gemessem e implorassem e por fim estavam as três assim, estendidas ao chão. Completamente nuas. Completamente vencidas. Fez assim delas tudo que quis. Eram suas para divertir. Era Deus.
Depositou os garfos no prato.
Levantou-se e foi a janela, acendeu seu cachimbo enquanto reanimava-se.
Pensou em todas as pessoas que se perdiam em fast-foods, em restaurantes baratos de mestres ruins. Pensou em todos que por vontade própria comiam mal. Todos aqueles que se acabavam em comidas pequenas e julgavam estar tendo alguma espécie de grande experiência. Nobre experiência.
E riu.
Risada longa e sonora. Deliciosamente sonora.
E lambeu os beiços.
Vinho Periquita - $25 Qualquer supermercado.
Para comer Penne à quatro queijos, vá ao Província di Salerno, fundada em 1983. Chef Remo Peluso. Belo Horizonte. Bairro Santa Efigênia, rua Maranhão, 18.
Para comer Prime Angus, visite a Djalma Mercearia. Bairro Belvedere, rua Jornalista Djalma Andrade, 14.
Sentou-se sozinho a mesa. Era bom que assim fosse.
Havia preparado o circo de forma exemplar.
Para beber, uma garrafa portuguesa "Periquita". Sacou a rolha em três lances e viu a bebida cor rubi deslizar suave taça adentro. O aroma dominante, frutado e forte assaltou o ambiente.
Provou.
Forte. Precisava respirar, já esperava por isso e abriu a coroa de entrada.
Havia levado 28 minutos. Podia recordar o braço de vapor de quando a penela havia finalmente refogado. O molho quatro-queijos quando de prova, fumegante estava exímio. Penne.
Garfou logo três inteiros e devorou-os à boca. Êxtase.
Comeu lentamente. Ao meio da refeição julgou o vinho justo, bebericou e aprovou, apesar de ainda não ser sua hora.
A taça teria de esperar.
Os sabores da pasta explodiam em suas gustas palativas. Era belo. Podia imaginar os agricultores argentinos cultivando o trigo, os processos de produção, a embalagem, o momento em que escolheu-o ele próprio ao supermercado. Todo o processo impecável como havia de ser.
Terminou. Devorou dois ou três pães com patê Fois Grais. Bebeu do copo d'água para limpar o paladar. Água fresca. Não estupidamente gelada para agredir seus sentidos, mas fresca, fria, divina.
Levantou e dirigiu-se novamente a cozinha. Vinte dois minutos. Estava pronta. Retirou-a da brasa e apreciou. Prime Angus, corte de picanha. Salgada ao sal grosso, de cor dourada e brilhante deixando a camada ideal de gordura a borda: meio dedo.
Partiu a ponta. Por dentro vermelha rosada, salpicada com certas gotas ainda escuras de sangue.
Perfeita.
Levou-a à mesa hipnotizado com o aroma forte. Espécie escocesa crescida nas pradarias gaúchas. Os grandes chefs sempre disseram que dariam uma das mãos por um bovino melhor. Os Angus cultivavam o hábito de ter suas carnes macias, entremeadas de gordura e músculos, tornando cada pedaço seu especial.
Num novo prato colocou a peça inteira e tragou todo o nirvana especial do odor. Trezentas e vinte duas gramas. Uma obra de arte.
Ao lado já preparado, arroz à Piamontese aguardava resoluto. Era o acompanhante ideal. É justo que um grande cavalheiro seja acompanhado por uma bela dama, resta-nos saber quem seria cavalheiro, quem seria dama.
Agora assim, o vinho. Bebericou da boa taça arrefecendo o paladar. A força do tinto exprimiu suas gustas patativas, terrivelmente molhadas. Garfou certa dose de piamontese, partiu um pedaço gordo de carne, tragou-a.
Era forte, macio, salgado. Era doce, encorpado, sedento. Era Angus. A dama mais vil e cruel que já pastou na terra. Uma amante sórdida e ninfomaniaca. Cavalgava sua boca com pele dourada e cabelos negros. Olhava-o com olhos cruéis de quem iria dar-lhe até a última gota de vontade. Os cabelos negros saltavam junto ao cavalgar envolto em tesão e êxtase impondo sua vontade. Era escravo dela. Objeto dela. Fazia-lhe todas as suas vontades. Era carne e paixão.
Engoliu. E foi como gozar. Uma gota de sangue escorreu-lhe ao queixo e em rápido gesto lambeu-a.
Deu-se alguns minutos para se recompor. Em olhos compenetrados fitou nada, mau ousando memorar a sensação. Mau ousando rabiscar vontade.
Mas como um tolo preso aos vícios, tolo foi para garfa-la em riste e bastou traga-la para ser novamente espancado.
Agora ele à metia-lhe de quatro. Tal corpo dourado que o hipnotizava. Ela revolta revolvia-o. Sentia seu membro ser tragado, engolido por ela. Não comia, era comido. Ouvia-a rir e gemer como de uma vez só. Estava paralisado, e as únicas sórdidas forças que saiam de dentro de si eram as suficientes apenas em estapeá-la.
Engoliu.
Colocou as mãos a mesa não aguentando mais. Era muito. Lutou contra a vontade vendo a peça de carne ainda inteira no prato. Lutou, gemeu, chorou. E então se decidiu em acabar com ela.
Comeu-a com força. Agarrou-a à parede. Comeu-a de pé. Fe-la gemer. Jogou-a no chão e comeu-a ali. Deitada. Era pura. Dourada. Era linda. Digladiou cada pedaço dela. A ninfa. Cada membro. De repente não era mais no quarto, era selva. E ensandecida revidou. Não mais uma, eram três. Chupavam-no e beijavam-no. Cavalgavam-no. Mas corajoso foi e atentou à última de suas cartas. Chupou-as as três. Chupou-as inteiras. Até o mais vil covil recôndito de seus úteros. Fez com que gritassem, chorassem, gemessem e implorassem e por fim estavam as três assim, estendidas ao chão. Completamente nuas. Completamente vencidas. Fez assim delas tudo que quis. Eram suas para divertir. Era Deus.
Depositou os garfos no prato.
Levantou-se e foi a janela, acendeu seu cachimbo enquanto reanimava-se.
Pensou em todas as pessoas que se perdiam em fast-foods, em restaurantes baratos de mestres ruins. Pensou em todos que por vontade própria comiam mal. Todos aqueles que se acabavam em comidas pequenas e julgavam estar tendo alguma espécie de grande experiência. Nobre experiência.
E riu.
Risada longa e sonora. Deliciosamente sonora.
E lambeu os beiços.
Vinho Periquita - $25 Qualquer supermercado.
Para comer Penne à quatro queijos, vá ao Província di Salerno, fundada em 1983. Chef Remo Peluso. Belo Horizonte. Bairro Santa Efigênia, rua Maranhão, 18.
Para comer Prime Angus, visite a Djalma Mercearia. Bairro Belvedere, rua Jornalista Djalma Andrade, 14.
Comentários
Postar um comentário