Bela Acolá

Por Antonio Fernandes

Olho-a de longe. Só.
Não a amo nem me apaixono
não de fato.
Mas não me presto a não olhar.

Tua face conspira-lhe burguesia
mas teus olhos traem-lhe aristocracia.
Ela que é toda anárquica,
Em filosofia que nem Marx converge.

Uma filosofia sã.
Que sendo {eu} amante da sabedoria,
não possuo opção que não olhar.
Não possuo opção que não traga-la
hora e meia, a me chocar.

Bela como a orquestra que toca Tchaikovsky.
Leve como o ballet que dança Tchaikovsky.
Reluz ao coral que tece a Nona e canteia,
como quem ensaia e incendeia.
Linda. Linda e trágica, como Guernica,
misteriosa Monalisa,
indiferente obra simbolista,
Suprema Vênus romantista.

Ela é toda a Arte.
Ela é toda traste.
Traste por tragar-me e nem suspeitar-me.
É paixão.
Paixão de Platão.
E nem sequer anseio te-la.
Já existe muito em ve-la.
Que hei eu hão de fazer?
Desfrutar. É claro.

Jogue-me pedras se preciso for,
mas não haverei de deixar de olhar.
Não dá.







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