Pesadelo Obsessivo

Por Antonio Fernandes

Tive esse sonho negro
ainda acordado
sonhava que confrontava
Desabafava tudo o que sentia
mas não era suficiente
era desprezado
Então o sonho negro se repetia
os rostos que me assistiam
Desabafar eram apáticos
Olhos devorados de peixes
Zumbis que me assistem
de meu próprio sonho
tive este sonho negro
sonhei que lhes confrontava
Que lhes gritava minha dor
que gritava que batia
que esfaqueava
Cortava barrigas
Deles? A minha?
Sonhei este sonho negro
em que expunha as injustiças
Cometidas contra mim
o público hora era apático
Hora não se importava
hora ria hora hora dia hora noite
Hora nada ora
Serei só reality show
De verdade
Sonhei que dizia verdades
sonhei que saia calado
tive pesadelos com rostos
que riem que tem raiva que choram que desprezam que mentem
Sonhei com amigos que perdi
Sonhei com pessoas com quem me decepcionei
sonhei dez vezes dez milhões de vezes
Sonhei com eles todos os dias
Por grandes períodos de dia
Cada vez que sonhava era um enredo diferente
com argumentos diferentes
Com razões diferentes
Desfechos diferentes
sonhei com mais finais pra isso
Que eles poderiam sequer sonhar
Que poderiam ser finais para isso
Eu revi todos os acontecimentos
tantas vezes multiplicadas por tantas
Que minha alma só se sente rasgada
de repetir
eu estou cansado de sonhar
Este sonho negro
que leva sempre ao lugar
Da minha derrota
Do meu fracasso
Do fim que terei
Sofrer todos os dias
Seis a sete horas por dia
De pensamentos obsessivos
onde sonho acordado
O mesmo pesadelo
Com as mesmas pessoas
Sobre o mesmo motivo
Alimentando o mesmo ódio
Eu podia suicidar
E levar o gado junto
tanto quanto gostaria de
perdoar tudo
E seguir em frente
Mas não é fácil existir
com uma faca enfiada nas costas
A ferida dói
Mexer os braços dói
Existir dói
Eles nao fazem noção próxima
Do inferno a que me obrigaram a viver
não chegam a sonhar o tamanho do pesadelo de odio e sofrimento
Que é viver essa obsessão todos os dias
Esse labirinto aridiatico
E nao haver fio de novelo de lã
Que me arranque dele
cada pesadelo é como coletar penas
e penas e penas e penas
E sinto que vou voar pra fora daqui
só pra ser queimado do sol
E desabar do céu
E perder tudo que tenho e tudo que sou e tudo que fui
porque juro por Deus
Se existe uma definição de destruído
Estou eu
Exausto ferido cansado
e a historia do sonho
Volta a repetir
outra e outra vez
novamente estou vivendo o sonho do sonho
acordado
A mesma corrente infindável de pensamentos
Cravados
Merda
Quanto mais penso nisso mais exausto
Quanto mais tento nao pensar
mais me pego a pensar
quanto mais soluções encontro
menos soluções encontro
nao quero me vingar de ninguém
Mas tenho vontade de machucar
Nao quero fazer mal a ninguém
Mas sinto vontade de defender
Me defender
E defender os outros
nem sequer imaginam eles
A posicao de desgraça e tormento
Que me colocaram
O pesadelo repete
E repete de novo
duas três quatro oito vezes ao dia
As vezes dura horas
As vezes me estremesse
até que eu sinta vontade de deitar e não me levantar mais
até que eu busque uma faca
e rabisque minha ansiedade no braço
Até que ataque em pânico
No meio da multidão
E queira arrancar tudo com as unhas das veias
Pra fora
E os pensamentos voltam
fortes fracos
Vingativos cruéis
Vitimistas desistentes
Homicidas suicidas
Se esconder aparecer
não dar satisfação a ninguém
Dizer a verdade para todos
rasgar o verbo a cara
a coragem e colocar fogo no cabaré
Toda a libertação de toda a concessão com toda a verdade posta a público
E me tornar apenas o reality show ridículo dos oprimidos
enquanto no palco o cenario nada muda
pra que? Porque? Por quem? Qual a necessidade?

A guerra nao tem razão e não tem razão sequer a paz

Matar a todos nao faz sentido tanto quanto deixar tudo como está faz sentido nenhum
tenho tantos motivos para machucar quanto para nao machucar
lhes machucar
Me machucar
A obsessão vingativa é aquém a toda a minha realidade
Eu, ser de exagero de sentimentos
poeta boêmio diplomata
O que uniu sempre inimigos como irmãos, ajudou a paz a atravessar corações e abraçar todos que encontra na rua emprestar um isqueiro um cigsrro jogar uma conversa fora e traçar planos criativos pra um futuro mais bonito
eu
Que tantas vezes me dispus a ajudar tanta gente com todas as minhas energias e forças
Eu que por natureza aparto brigas, nao sei sequer dar um soco e nao tenho uma mísera gana de violência que seja
embuída prensada embutida condensada no meu corpo
nem uma sequer
estou já fazem 2 meses num atoleiro de merda e lama variando em pensamentos vingativos destrutivos homicidas e suicidas
E a razão
Que se sobressai a todo turbilhão de emoções
Consegue filtrar tudo e saber nao ser sensato tomar atitudes violentas contra ninguém
Até porque do alto dos meus
Metro e oitenta
Pesando sessenta qualquer coisa
Eu faria tanto perigo a alguem como
um filhote de um cachorro de pequeno porte
nao que eu nao seja inteligente o suficiente pra ser um psicopata dentro dos meus melhores sonhos vingativos
mas afinal
é muito fácil ser inteligente dentro de sonhos vingativos
esta poesia vem apenas como devaneios que agora
Que vejo
estou dentro do próprio pensamento obsessivo
Em que, você,
 - como telespectador por fora -
 pessoa que me lê
- Como telespectador por dentro -
criatura imaginária odiosa e monstruosa contra quem escrevo
e que tem destruido pouco a pouco
Minha mente e minha vida
percebe que eu gostaria de ser bom
eu gostaria de agir correto
mas não há escolha
Eu estou quebrado nessa situação
Já num periodo longo demais
Exausto
Esses demônios do diretório já existem mais dentro da minha cabeça do que fora dela
E ja morreram mais vezes do que eu vou ter a chance de mata-los
tanto quanto ja tiveram tantas vezes muito mais perdão do que mereceram
tanto quanto já receberam todo tipo de tratamento imaginario justo ou injusto, certo ou nao certo
num pesadelo de sessenta dias
Que se repete na minha mente por horas do dia
Cortar os braços fumar cigarros transar com força falar de qualquer bobagem do mundo
pode ajudar
as vezes
Mas nao afasta que no fim eu estarei obcecado pelos mesmos pensamentos cansado por elas novamente desejando morrer serrando meus braços com uma faca e querendo que acabe
acabe logo
acabem logo com isso
a bondade é semente que se planta e rega
Mas a maldade é veneno profundo cancerígena e se espalha como
Corona vírus
E talvez eles nao saibam o quanto
Eu odeio todos eles
muito mais
Do que eles podem imaginar
E eu odeio tanto
Que o gosto de odio
No fundo da garganta
Que me lembra um gosto de vômito
Quase parece existir
Pelo meu dia a dia
Eu já estou cansado de odiar
mas cada dia odeio mais
E essa estrada nao tem fim
o ataque de panico vai voltar
posso estar no melhor lugar do mundo
rodeado pelas melhores pessoas do mundo
apoiado por uma familia que nao merece toda a dificuldade da minha dor
No amor de uma garota maravilhosa
Que tenho tesão intelectual pra conversar sobre tudo no mundo
E tudo é estragado
por um cocktail de odio que ainda que eu chore reze implore
ou faça o que quer que seja no mundo
não me escapa
As vezes eu me deito
Como na noite de ano novo
com os fogos explodindo no céu
Olho estrelas
E tudo o que eu queria
Era que vazasse sangue dos meus pulsos
Até nao restar energia
Que me restasse aqui
e sozinho me resto
Mesmo rodeado de amor
eu estou sufocado
Preso
num canto
Destruido do odio
De pessoas que nao merecem
O pior pesadelo
que posso ter sonhado
Com elas




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