Não é pró vandalismo, é pró compreensão
Por Antonio Fernandes
Após recente publicação de um texto de outro autor, que apesar de se parecer com a opinião que detenho agora não enquadra minha a visão completa, muitos criticaram o "apoio ao vandalismo", por isso explicarei a posição em maneira clara.
Não, não me tornei vândalo. Continuarei saindo às ruas em manifesto pacífico e criativo. Continuo condenando a violência, tanto policial como marginal. Ainda creio que a melhor revolução se faz com Rapel, barracas e piadas. Com cantos coletivos e novas amizades. Com marchas pacíficas. O novo posicionamento com relação aos vândalos não passa por dizer que o que fazem está certo, mas tentar compreende-los. Tentar cooptar o que os leva a fazer como fazem, a agir como agem.
Eles não vivem numa torre de marfim. São marginais, sim, no sentido estrito da palavra. Marginais ao sistema, excluídos, perseguidos e agredidos. Os espaços urbanos que hoje depredam são os que são excluídos de frequentar. O que lhes parece o poder: e não estão errados. Os bancos e as indústrias de carros são sim, parte vasta do poder, principalmente os bancos. Claro que o revendedor de carros não tem nada haver com isso (apesar de que com relação às depredações de bancos, não sinto uma gota de pena) e claro que a fúria dessa massa de vândalos e tal qual grande, que mesmo alguns pequenos comerciantes foram depredados. Mas principalmente essa parcela excluída da nossa sociedade se move mais por sentimentos e paixões num momento como esse. Eles estão finalmente protegidos! Nós burgueses os protegemos, porque pra atirar neles, é preciso atirar em nós. Pela primeira vez as balas não são balas que matam, mas balas de borracha! Os helicópteros não portam metralhadoras, mas câmeras e luz. Eles se descobriram intocáveis pela agressão do Estado ao se esconder no meio de nós.
E muitas as vezes as balas os matam. Os grupos de extermínio da Polícia Militar, a agressividade dos traficantes tocando seus negócios, as forças de operações especiais. Os assassinatos e crimes, que ficam à mercê da lei do traficante. Um sub-mundo de drogas, de muito alcool, de frustrações. Nenhum saneamento básico, nenhum sistema de saúde decente, nenhuma educação que preste. E quando saem dessa Umbra em que vivem, se caminharem nos lugares errados da cidade serão sistematicamente parados por policiais e revistados. E agredidos. Ter armas de fogo apontadas na cara. Serão olhados torto por nós. Atravessaremos a rua.
É essa raiva, é essa revolta que desceu ao meio dos manifestantes. E isso assusta a burguesia. Apavora os burgueses porque tendo estudado em suas boas escolas, tem noção de história e sabem que as melhores revoluções foram feitas com a paz e a criatividade, não com a violência. Conhecemos Luther King e Ghandi e eles nos inspiram à sairmos de casa. A única agressão que queremos causar é fechar avenidas. Os únicos gritos que queremos dar são expressões da nossa revolta contra o governo. Vivemos na calma, na paz, e ficamos chocados quando esses garotos, dos quais vi na quarta-feira indo ao Mineirão, tendo desde 7 a 8 anos (sim) até 20 ou 30, a maioria tendo menos de dezoito, saem irados em destruir e alegres ao depredar. Arrastam suas conquistas no meio de nós com risos na face e se juntam para destruir o que não puderem carregar.
A classe média está apavorada. Saiu as ruas para lutar pela ausência daquilo que eles não sofrem: péssima educação, péssima saúde, nenhuma segurança. Saíram com bandeiras brancas e muita vontade de ajudar os outros, mas se depararam com os verdadeiros oprimidos junto deles. E os oprimidos não querem saber de camisas brancas. Querem sim, chegar o mais rápido possível às barreiras policiais. Atacar aqueles porcos fardados que lotaram seus pesadelos desde que nasceram. Que os revistam, espancam e mataram seus irmãos. Eles atacam a Polícia em fúria, carregam arsenais de bombas caseiras, fogos de artifício, pesos de chumbo e bolas de bilhar.
A classe média despertou o caos.
Essa é a interpretação, a compreensão do vandalismo solto nas ruas. Como disse desde o início, não vim aqui justificar os atos dessas pessoas, mas compreende-los. Eles, sem saber, estão destruindo a chance de mudar o que odeiam e amedrontando outros manifestantes, desarticulando e enfraquecendo o movimento que lhes deu vasão. Dão cartas a mídia e a Polícia para dizer aos pais que "não deixem seus filhos sair as ruas". Os atos deles não são bons ao manifesto, não contribuem para derrubar os tais "bancos" e "concessionárias". Exatamente porque tendo um país mais livre, limpo e democrático é que poderemos controlar os abusos do poder econômico. São nossas reivindicações brancas que vem modificando o ordenamento do Brasil e nos levando a um lugar melhor.
Por tudo isso que falei, tiro agora duas conclusões.
A primeira: não tenham ódio dos vândalos. Não os excluam. Não os reprimam mais do que já foram reprimidos. Usem da compreensão e não caiam no erro de julga-los exatamente por aquilo que lhes alimenta tanto ódio. Eles também são humanos.
A segunda: Precisamos descobrir maneiras de contornar essa situação. Descobrir meios de protestos que dificultem a ação do vandalismo e dos enfrentamentos. Tenho a vocês, leitores, três sugestões: A primeira já acontece e deve ser ampliada, a segunda é esporádica, mas pode ser facilmente organizada e posta em prática. A terceira é ampla.
Primeiro: Assembleias Populares. Sim, já vem ocorrendo uma embaixo do viaduto Santa Teresa. Mas há outros lugares mais, da cidade, em que essas assembleias podem ser organizadas em magnitudes diferentes. Criem eventos e chamem seus amigos próximos. Divulguem o quanto puderem, consigam um megafone ou caixa de som e microfone, e falem. Deem palavra a todos nas ruas. Busquem soluções, melhoras, xinguem os defeitos da nação. Dessas assembleias podem surgir baixos-assinados, cartas aos prefeitos, aos governadores, aos vereadores. Podem surgir novas ideias e novas abordagens. E não abre margem a ação do vandalismo.
Segundo: Acampem. Vá pra rua literalmente. Uma barraca no centro custa menos de cinquenta reais, leve suprimentos, um colchão ou saco de dormir. Leve livros, todos os que você tem pra ler, seus instrumentos musicais e ainda, sua voz. Em Belo Horizonte a melhor opção, creio eu, é a Liberdade. Seguro o suficiente e com boa visibilidade. Bons lugares para Assembleias e apresentação de teatros improvisados, música e diversão. Não precisam ficar lá pra sempre. Dois ou três dias, uma semana, um mês. O tempo que quiser.
E por fim: Sejam criativos. Sejam maravilhosamente criativos. A criatividade para manifestação é uma das nossas maiores armas. Levar o riso as ruas tira de casa também os mais jovens, as mulheres, os idosos. Dá oportunidade a todos de protestarem e não só os corajosos. Quanto mais formos, mais fortes seremos. Mais impacto causaremos e mais mudança haverá.
Essa revolução que agora acontece no Brasil não deve morrer. Nossa lista de insatisfações ainda é larga e os políticos mal começaram a atender nossas demandas. Não é hora de parar. Não temos tempo pra teorias da conspiração ou lutarmos contra nós mesmos. Precisamos ter foco. Os verdadeiros vândalos trabalham em Brasília, e arrombam dos cofres públicos somas milhares de vezes maiores que os vidros de uma concessionária. Que um banco ITAÚ. São aqueles vândalos que devem nos preocupar.
E estamos preocupados.
E por isso à você que desistiu das manifestações, seja porque há "anti partidarismo" ou "apartidarismo", porque é confuso a mídia ter mudado de lado, por medo da Polícia, dos vândalos e das passeatas.
Volte pras ruas! É de você que precisamos desesperadamente! É o seu ceticismo que ajudará o manifesto a se recompor, a criar novas raízes e se renovar. Pense saídas, descubra meios, faça diferente. Junte-se aos outros e faça diferente. Somos fortes em cada ato, em cada esquina, em cada barraca, em cada voz, em cada pé que marcha aonde for. Somos o sangue que corre a nação. Um povo decidido a traçar seu futuro.
Não deixe que aqueles pobres diabos destruam sua vontade de mudar o Brasil.
Então eu te imploro, te peço, te grito!
#VEMPRARUAVEM
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Após recente publicação de um texto de outro autor, que apesar de se parecer com a opinião que detenho agora não enquadra minha a visão completa, muitos criticaram o "apoio ao vandalismo", por isso explicarei a posição em maneira clara.
Não, não me tornei vândalo. Continuarei saindo às ruas em manifesto pacífico e criativo. Continuo condenando a violência, tanto policial como marginal. Ainda creio que a melhor revolução se faz com Rapel, barracas e piadas. Com cantos coletivos e novas amizades. Com marchas pacíficas. O novo posicionamento com relação aos vândalos não passa por dizer que o que fazem está certo, mas tentar compreende-los. Tentar cooptar o que os leva a fazer como fazem, a agir como agem.
Eles não vivem numa torre de marfim. São marginais, sim, no sentido estrito da palavra. Marginais ao sistema, excluídos, perseguidos e agredidos. Os espaços urbanos que hoje depredam são os que são excluídos de frequentar. O que lhes parece o poder: e não estão errados. Os bancos e as indústrias de carros são sim, parte vasta do poder, principalmente os bancos. Claro que o revendedor de carros não tem nada haver com isso (apesar de que com relação às depredações de bancos, não sinto uma gota de pena) e claro que a fúria dessa massa de vândalos e tal qual grande, que mesmo alguns pequenos comerciantes foram depredados. Mas principalmente essa parcela excluída da nossa sociedade se move mais por sentimentos e paixões num momento como esse. Eles estão finalmente protegidos! Nós burgueses os protegemos, porque pra atirar neles, é preciso atirar em nós. Pela primeira vez as balas não são balas que matam, mas balas de borracha! Os helicópteros não portam metralhadoras, mas câmeras e luz. Eles se descobriram intocáveis pela agressão do Estado ao se esconder no meio de nós.
E muitas as vezes as balas os matam. Os grupos de extermínio da Polícia Militar, a agressividade dos traficantes tocando seus negócios, as forças de operações especiais. Os assassinatos e crimes, que ficam à mercê da lei do traficante. Um sub-mundo de drogas, de muito alcool, de frustrações. Nenhum saneamento básico, nenhum sistema de saúde decente, nenhuma educação que preste. E quando saem dessa Umbra em que vivem, se caminharem nos lugares errados da cidade serão sistematicamente parados por policiais e revistados. E agredidos. Ter armas de fogo apontadas na cara. Serão olhados torto por nós. Atravessaremos a rua.
É essa raiva, é essa revolta que desceu ao meio dos manifestantes. E isso assusta a burguesia. Apavora os burgueses porque tendo estudado em suas boas escolas, tem noção de história e sabem que as melhores revoluções foram feitas com a paz e a criatividade, não com a violência. Conhecemos Luther King e Ghandi e eles nos inspiram à sairmos de casa. A única agressão que queremos causar é fechar avenidas. Os únicos gritos que queremos dar são expressões da nossa revolta contra o governo. Vivemos na calma, na paz, e ficamos chocados quando esses garotos, dos quais vi na quarta-feira indo ao Mineirão, tendo desde 7 a 8 anos (sim) até 20 ou 30, a maioria tendo menos de dezoito, saem irados em destruir e alegres ao depredar. Arrastam suas conquistas no meio de nós com risos na face e se juntam para destruir o que não puderem carregar.
A classe média está apavorada. Saiu as ruas para lutar pela ausência daquilo que eles não sofrem: péssima educação, péssima saúde, nenhuma segurança. Saíram com bandeiras brancas e muita vontade de ajudar os outros, mas se depararam com os verdadeiros oprimidos junto deles. E os oprimidos não querem saber de camisas brancas. Querem sim, chegar o mais rápido possível às barreiras policiais. Atacar aqueles porcos fardados que lotaram seus pesadelos desde que nasceram. Que os revistam, espancam e mataram seus irmãos. Eles atacam a Polícia em fúria, carregam arsenais de bombas caseiras, fogos de artifício, pesos de chumbo e bolas de bilhar.
A classe média despertou o caos.
Essa é a interpretação, a compreensão do vandalismo solto nas ruas. Como disse desde o início, não vim aqui justificar os atos dessas pessoas, mas compreende-los. Eles, sem saber, estão destruindo a chance de mudar o que odeiam e amedrontando outros manifestantes, desarticulando e enfraquecendo o movimento que lhes deu vasão. Dão cartas a mídia e a Polícia para dizer aos pais que "não deixem seus filhos sair as ruas". Os atos deles não são bons ao manifesto, não contribuem para derrubar os tais "bancos" e "concessionárias". Exatamente porque tendo um país mais livre, limpo e democrático é que poderemos controlar os abusos do poder econômico. São nossas reivindicações brancas que vem modificando o ordenamento do Brasil e nos levando a um lugar melhor.
Por tudo isso que falei, tiro agora duas conclusões.
A primeira: não tenham ódio dos vândalos. Não os excluam. Não os reprimam mais do que já foram reprimidos. Usem da compreensão e não caiam no erro de julga-los exatamente por aquilo que lhes alimenta tanto ódio. Eles também são humanos.
A segunda: Precisamos descobrir maneiras de contornar essa situação. Descobrir meios de protestos que dificultem a ação do vandalismo e dos enfrentamentos. Tenho a vocês, leitores, três sugestões: A primeira já acontece e deve ser ampliada, a segunda é esporádica, mas pode ser facilmente organizada e posta em prática. A terceira é ampla.
Primeiro: Assembleias Populares. Sim, já vem ocorrendo uma embaixo do viaduto Santa Teresa. Mas há outros lugares mais, da cidade, em que essas assembleias podem ser organizadas em magnitudes diferentes. Criem eventos e chamem seus amigos próximos. Divulguem o quanto puderem, consigam um megafone ou caixa de som e microfone, e falem. Deem palavra a todos nas ruas. Busquem soluções, melhoras, xinguem os defeitos da nação. Dessas assembleias podem surgir baixos-assinados, cartas aos prefeitos, aos governadores, aos vereadores. Podem surgir novas ideias e novas abordagens. E não abre margem a ação do vandalismo.
Segundo: Acampem. Vá pra rua literalmente. Uma barraca no centro custa menos de cinquenta reais, leve suprimentos, um colchão ou saco de dormir. Leve livros, todos os que você tem pra ler, seus instrumentos musicais e ainda, sua voz. Em Belo Horizonte a melhor opção, creio eu, é a Liberdade. Seguro o suficiente e com boa visibilidade. Bons lugares para Assembleias e apresentação de teatros improvisados, música e diversão. Não precisam ficar lá pra sempre. Dois ou três dias, uma semana, um mês. O tempo que quiser.
E por fim: Sejam criativos. Sejam maravilhosamente criativos. A criatividade para manifestação é uma das nossas maiores armas. Levar o riso as ruas tira de casa também os mais jovens, as mulheres, os idosos. Dá oportunidade a todos de protestarem e não só os corajosos. Quanto mais formos, mais fortes seremos. Mais impacto causaremos e mais mudança haverá.
Essa revolução que agora acontece no Brasil não deve morrer. Nossa lista de insatisfações ainda é larga e os políticos mal começaram a atender nossas demandas. Não é hora de parar. Não temos tempo pra teorias da conspiração ou lutarmos contra nós mesmos. Precisamos ter foco. Os verdadeiros vândalos trabalham em Brasília, e arrombam dos cofres públicos somas milhares de vezes maiores que os vidros de uma concessionária. Que um banco ITAÚ. São aqueles vândalos que devem nos preocupar.
E estamos preocupados.
E por isso à você que desistiu das manifestações, seja porque há "anti partidarismo" ou "apartidarismo", porque é confuso a mídia ter mudado de lado, por medo da Polícia, dos vândalos e das passeatas.
Volte pras ruas! É de você que precisamos desesperadamente! É o seu ceticismo que ajudará o manifesto a se recompor, a criar novas raízes e se renovar. Pense saídas, descubra meios, faça diferente. Junte-se aos outros e faça diferente. Somos fortes em cada ato, em cada esquina, em cada barraca, em cada voz, em cada pé que marcha aonde for. Somos o sangue que corre a nação. Um povo decidido a traçar seu futuro.
Não deixe que aqueles pobres diabos destruam sua vontade de mudar o Brasil.
Então eu te imploro, te peço, te grito!
#VEMPRARUAVEM
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Gosto muito do texto. Parabéns!
ResponderExcluirTanto pela capacidade de articulação e escrita quanto pelo que foi dito. (: