I'm Lost

Por Antonio Fernandes


I'm Lost

Ato I

No meio do oceano, caminhos não há.
Não há se não fagulha de vontade, que me faz caminhar
é salgado o cheiro das ondas
é triste o som, do mar.

Por mais alto que eu suba nos mastros
as distancias não me concedem o que busco
as ondas são mais altas que meus olhos
os contornos da terra me distanciam do meu rumo

E eu não sei onde estou, estou perdido.
Já não há esperanças nem pedidos
da minha alma sobre o que proceder
talvez, quem sabe, meu destino seja aqui morrer.

Ato II

Me perdi nos caminhos da vida
e a eles não voltei jamais
me gritaram ajuda e eu não quis
talvez eu espere demais

E foram tantos! Tantos que o braço me estenderam
e minha tristeza e orgulho os ofenderam
e abandonado eu fui
por que quis.

Sozinho, medo não mais tenho.
Não do desconhecido, mas medo do próprio medo
Medo de morrer sozinho, afogado nas angústias do desapego

Sei que não sei mais do norte
e a dor sobre mim é mais forte
e som dos vazios do mar
me mostram que o destino é a morte.

Vejo que morri por dentro
Já não me importo com o que me importei
por ela, nem uma lágrima chorei
pelo menos não dos olhos, não dos olhos.

E o infinito eu vejo a distância,
e imagens vem de esperança
esperança daquilo que já não há
vontades daquilo que já não há
medos, daquilo que sempre haverá.

Eu queria estar morto.

Ato III

Meu barco segue navegando, e novas histórias eu vejo chegando
vejo que ainda há águas a percorrer, mas delas, eu tenho medo
minhas mãos já sangram nos calos
meus musculos estão arregaçados
minhas roupas esfarrapadas
minha alma negra lavada em prata dos que choram
Eu não sei se devo.

Não sei se devo pois sou o mau.
E o meu amor é fatal
minha paixão é letal, 
e aqueles que se juntam ao meu barco
morrem afogados.

Eu tenho pena deles, mas minha alma é de lobo do mar
fisga-los eu vou, até me saciar
só que não me sacio, e faço denovo,
e denovo,
e denovo,
até amores não mais encontrar.

Não é que eu queira ser mau,
mas o mau a mim vem.
Minha solidão me convém, e elas não entendem.
Não entendem que preciso de momentos a sós com minha conciencia,
que preciso sofrer de solidão pra me sentir vivo,
que sentimentos ruins são o meu alívio,
Que eu nasci para ser as trevas.

Talvez não tanto por um lado, nem tanto por outro.
Talvez um dia eu saiba ser mais roto.
dai quem sabe eu aprenda a amar
e por alguém eu saiba me apaixonar.

Ato IV

Não é que eu não possa ser bom.
Afinal, todos nascemos para sermos bons
não.
A verdade é que sou bom sendo mau.
Minha mascara e meus cigarros me trazem felicidade que poucas felicidades se igualam,
minha solidão rasga minha alma e eu me sinto vivo
minhas tristezas me atiçam até quase felicidade.

Mas todos esses devaneios são inúteis.
Eu sei que é mentira metade do que digo aqui.
Assim como é mentira metade do que já falei por ai.
Não estou num barco, mas num poço.
Eu não tenho todas as direções, mas nenhuma direção.
Me sinto no fundo do nada, e ninguém me ajuda pois não me vê.
Pode me enchergar, mas não me vê.
Não crê
Não crê que eu possa não ter caído no poço, mas entrado por conta própria
para me esconder das emoções.
para me esconder do mundo.
Estou lá por conta própria e não quero sair.

Me mascarei, e quando a mascara não foi suficiente fugi.
E quando fugir não foi suficiente eu me escondi,
e quando não foi mais possível me esconder eu me joguei no poço,
e no ato quebrei minhas pernas e músculos,
rompí ligamentos, da alma e do corpo,
sangrei, chorei e sofri,
e não consegui me levantar,
e finalmente, encontrei meu lugar.

Quebrado longe dos olhos de todos,
eu não podia ser ajudado.
Não havia nem ar nos meus pulmões para pedir por ajuda,
não há escapatória nem fuga,
ficarei alí pra sempre,
ou não.

Ato V

Não sei mais chorar. Assim como não sei mais amar.
Não choro pois não tenho emoções.
Depois que saí do poço eu sou aleijado.
Sou manco, sou fraco, sou um retardado.
E não há boa alma que me salve dali, pelo menos, por enquanto.

Me deixe sonhar com meu barco e com o fato de estar apenas perdido nas ondas,

enquanto encaro meu poço e ambiciono voltar pra lá.
Me deixe pensar que sou um grande apaixonado,

enquanto manco desesperado, sem ter a quem amar.

Por isso você que me ama, me deixe.
Alguém como eu, que é capaz de exercer tal sofrimento sobre sí mesmo,
por mais que seja digno da sua bondade e carinho,
só irá lhe fazer mau.
Me deixe ser o que eu faço melhor.
Não o mau, mas o aleijado.

Amém.


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