The Light Bird I Believe

Por Antonio Fernandes

The Light Bird I Believe

Ato Um

Eu vi luz
como um pássaro
enquanto escalava o poço vi luz
era loura dos olhos azuis e sorria
voava
era o sonho que mais queria

Um sonho, que sonho
sonho de ser bom, mais do que ser mau
Estava cansado de ser mau e por isso saí do poço
ou tentei sair, e caí

Eu rio por dentro de própria ironia
que daquilo que me fez fugir, esconder, me jogar no poço
Os mesmos motivos que me tornaram torpe e cruel
que me fizeram ser nada e viver do frio
eles voltam e me escondem a luz
e quando a luz sumiu
 perdi minhas forças
as lágrimas não foram choradas
engoli todas elas, e tinham gosto de sal
e me escorreram pela garganta como lava
queimando as entranhas, comendo pedaços de mim
que choravam e gritavam
corriam e atropelavam

Aquela luz falou comigo
esteve comigo por um tempo
Aprendi a ama-la enquanto escalava
Comecei a sair do poço quando a vi
talvez já estivesse decidido a sair do poço
mas foi quando a vi que tomei a decisão
em escalar as paredes e encontrar de novo o que fui um dia
feliz
e amar a vida como amo a música
E choro de novo
por dentro
sabendo que o que sonhei, se foi

Ato Dois
Fecho os olhos e sonho
estou de novo no mar
tenho todas as direções, e nenhuma direção
O sol brilha e caço as velas da minha vida
mas o mar se torna um quarto
fechado
as janelas fechadas
as paredes ruindo de escuridão
e o quarto
fedendo
fedendo a cigarros e a dias ruins
fede a tédio e desilusão
a luzes artificiais que não são
de forma alguma, minha luz
flerto com elas, jogo com elas
finjo até que sou apaixonado por elas
mas rio de novo, só por ironia
É mentira metade do que falei aqui
como é mentira metade do que já falei por ai
minto para essas luzes e dou-lhes esperança
e caio da cadeira
como tenho caído o poço
como tenho caído da cadeira pela luz que mais amo
pelos mesmos motivos
porque sou torpe
porque não sei não estragar as coisas que construí
não sei não machucar as pessoas que amo
E sinto de novo
sou todo mau
Mas não quero ser todo mau
essas trevas, esse monstro,
 que me alimentaram e cuidaram
hoje me enojam
quero joga-los fora
me livrar, sacudir, lavar
sim
lavar
tomar-lhes um banho e arrancar-lhes
mas sou sujo
sou porco
e abro os olhos, cansado
e vejo que caí
despenquei do poço, e estou fundo de novo
É mais do que poço, eu vejo
é latrina
perdi a luz, e se foi
E não se foi apenas porque não sou digno
digno de confiança
essa luz não será mais capaz sequer de confiar-me
Ela se foi porque mesmo que eu seja perdoado
Confiado
não conseguirei viver em minha própria vergonha
viver em minha própria merda
Olhar a luz em minha vergonha
a vergonha talvez seja a lava
que me escorre pela garganta e come
E me doem as entranhas, e me destrói a alma
e os sonhos
Não sou mais capaz
de olhar nos olhos dela

Ato Três
Minha alma despedaçada
Eu quebrado, no fundo do poço
meus cacos, meus medos
meus jeitos, trejeitos
e não tem mais jeito
o tolo, forçando a se ajeitar
mas não dá
caio sempre pelos mesmos motivos
já não sei levantar
Aquela luz que me olhou, se foi
Afundo no frio e nas trevas
Ela disse-me, à ultima vez
que pressentia a morte
e como nunca duvidei, eu sei
que o que ela sentiu
não foi a própria morte
foi nossa morte
e desisto
solto meu corpo, fecho os olhos e morro
ou tento morrer
sonhando que da morte da luz renasçam das cinzas
a Fenix
que me salvará de mim mesmo
e talvez, voando comigo ao céu
me devolva a luz, a vida
e a alegria com que sempre sonhei

Não o mau, nem o aleijado. 
Mas o esperançoso.
Talvez eu não morra agora,
Talvez, talvez até tenha razão.
Quem sabe outrora eu recupere as forças
e escale de novo essa ilusão?



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