Céltica e Cético

Por Antonio Fernandes e Julia Murta

Céltica e cético

As coisas singelas que tocam minha alma
São constantes e não batem
flutuam
no meu ser místico inalcançável
pra mim
de forma tão inenarrável
que é impossível
expor a sensação
e o deleite
que bate tão fundo
e que não sai de dentro de mim
É como se os meus olhos estivessem fechados
para o mundo material
E só o som
Fala em mim
Dentro da sua infinitude que percorre pelos meus universos
É o momento da maior felicidade
Ou talvez contentamento de mim mesma
De ser o que sou
De estar onde estou, no lugar que deveria estar,
De olhos fechados sorriso cerrado abstinência do que não existe
Estou no "inexistível"
Que para mim se torna a realidade do instante
é a calma que grita inconsolável
que se explode por dentro
e inconformada se move como átomos pela existência intransfigurável
é ter asas e não ter braços
ter um corpo que não é meu, que não existe e que não é de massa.




Ela funda nos desígnios da imensidão abstrata do não-ser universal
eu convexo de racionalismos duma madrugada
de racionalismos tão trincheiros que beiram atropelando o próprio
exímio Pessoa que nos leciona
que a entropia dos racionalismos
é uma consequência de estar mal disposto
apesar de não concordar estar eu
mau disposto mas sim
confuso com o derradeiro temor do perigo
do abismo dos estudos
a vontade de abraçar pra sempre
amá-la numa paixão translúcida
ou escorregar para as trevas do sono agitado
do sono de sonhos
uma encruzilhada confusa
tais quais as encruzilhadas
das lutas que travo então com meu ser
minha mente e meu corpo cotidianamente
essas bravatas loucas que faço por mim
que loucura é finalmente
errar apenas duas vezes
e tenho dado pouco espaço para as meditações que são
só consequências de se estar mau disposto
naveguei-as boa parte de minha vida
mas cansei
velejo nelas e termino em becos
sem saída, sempre,
e não as quero mais pra mim
ando crente
como jamais achei que andaria
o cético dos céticos
hoje cético do próprio ceticismo
torna-se crente por ser extraordinariamente
cético
e beira a loucura de apegar-se as crenças
confiante de que felicidade é uma consequência
de se crer certo
e caminhar bem
pois bem
caminho com a maior e mais bela das fadas
que me arrasta com ela, arrancando-me das minhas trincheiras
racionalismos da consequência de estar mau disposto
para o céu abobado do abstrato não-ser dum universo
que não se importa com as perguntas
que não nomeia pois não lhe convém
mas é, e assim sendo, seu fim é seu começo
deixo-me rolar com ela por esse paraíso místico
de flores de cores e cal
e nado na superfície de queijo da lua
em deleite de amor e tal
minha fada



O descontrole do vômito de palavras
me colocam medo e temor de lê-las
não estamos falando das mesmas coisas
mas no fim estamos




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