La Traviata

Por Antonio Fernandes

Posso ser tão complexo
quanto um cubo destes de
dezesseis lados
ou tão simples
quanto uma folha levada no vento

posso ser tão triste
quanto alguém que acredita
ter perdido tudo
ou tão feliz
quanto alguém que acredita ter achado tudo
e ainda mais um tanto
num bocado de sorriso

posso ser tão pequeno e encolhido
quanto um inseto à quem pisam
e morre esmagado
ou tão gigante
quanto um general que comanda
exércitos

Posso ser o rei do mundo e todo o universo
Posso ser Deus todo poderoso
e a via láctea e o indefinido
ou posso ser nada
nunca ser nada
nem poder querer ser nada

tenho em mim todos os sonhos
tenho em mim a ausência de tudo que há

Sou o todo
sou o vazio

a imensidão do mar e
a gota desperdiçada de água
caída no chão, suja

cratera de vulcão ativo
pedaço de pedra morta

criatura marinha viva
grande baleia assassina
destruidora de embarcações
comedora de marujos
ou golfinho rosa boto
de mulher que encanta homens
para depois os matar

posso ser mítico ou ser real
pragmático ou idealista

comunista ou capitalista

Posso ser macho escroto dominante
posso ser feminino delicado

dono de bens ou livre de apegos

posso amar ou ser amado
ou ainda viver sem amor nenhum
sequer amor por mim mesmo

posso tudo quanto pode a vida
poderei ainda um dia
não ter sequer vida
como não a tive por tanto

há tanto em mim quanto não há nada

Sou a ilusão
e sou o real

Aquilo que você só saberá quando olhar
e depois que piscar
serei outra coisa, e outra
ou nem uma coisa nem outra

sou assim

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