Confesso que Estou Doente

Por Antonio Fernandes
Ex aluno e Ex Presidente


Confesso que estou doente.

Sofri um relacionamento abusivo ano passado. Os que me conheciam sabem como antes dele volta e meia eu tinha leves depressões como qualquer ser humano. Depois de conviver com uma espécie de monstro, que fez coisas horríveis comigo e uma história incontável, atravessei de crises de ansiedade, ataques de pânico, transtornos de dissociação e por fim, auto mutilação e consideração a suicídio, que me renderam uma internação no Hospital Psiquiátrico André Luís em agosto do ano passado. Você pode ver o texto que escrevi antes da internação clicando aqui. Sim. Literalmente no meio do meu mandato como Presidente do Diretório.

Ainda assim organizei o trote solidário, convidei para palestrar meu amigo Bruno Lewer, grande conhecedor do direito consumerista, que foi a única palestra promovida pelo DACON em 6 meses. Organizei junto a PUC uma festa extraordinária com 350 convidados, onde até onde sei, aqueles que foram acharam épica.

Briguei pela coroa de flores do Lúcio apesar de todos contra. Briguei pela revoada do décimo período apesar do Vice ter sido contra e a ter feito da forma mais porca que foi capaz de fazer. Fiz acontecer o Sarau da Montanha parado a anos. Não produzi a revoada mas resolvi todos os problemas dela enquanto ela acontecia. Briguei para que as faxineiras fossem pagas depois da revoada, já que o vice não as contratou e depois que elas limparam, decidiu não pagar pelo serviço, sendo que seriam obrigadas a limpar de toda forma a  bagunça que fizemos.

No fim do semestre, a diretoria do DACON se reuniu sem minha presença pra discutir os meus erros. Me condenaram num julgamento sem defesa e me chamaram no escuro pra outra reunião onde eu iria apenas ouvir minha sentença. Que seis pessoas que não haviam trabalhado nem me ajudado durante tudo que aconteceu em um semestre haviam decidido me rebaixar de presidente para diretor de departamento de festas.

Eu tenho consciência limpa de que trabalhei. De que dei o meu melhor e de que fiz muito pelo diretório em um semestre. Tenho consciência de que os alunos do grupo Ascendente em Gênios viram cada movimento do que fiz. Todo o trabalho. Que vocês viram nos corredores. E que não viram muitos deles fazendo nada. Até porque, de fato, metade da diretoria não fez nada, exceto me expulsar.

Quem não faz nada não comete erros. E é fácil não fazer nada, apontar o dedo para o trabalho dos outros e discorrer mil defeitos. Especialmente sem a presença deles.

Eu sofri muito de dezembro até aqui. Digamos que foi mais ou menos como viver um filme de terror todos os dias. Comecei a ter pensamentos obsessivos com relação a essa situação que vos escrevo aqui agora. Para entender sobre os pensamentos obsessivos, escrevi este texto aqui, caso tenha interesse. A decisão que eu deveria tomar repassava na minha cabeça sete ou oito vezes por dia. As correntes de pensamento durando de trinta minutos a duas horas. Eu juro por Deus que repassei cada quadro possível imaginável dessa situação. Mil vezes. Por mil dias. Até ficar exausto de pensar e não conseguir parar.

Essa obsessão piorou meu quadro clínico. Cruzei o natal atravessando entre profundo depressivo e crises ansiosas. Passei o ano novo com uma experiência nova: estava acostumado a considerar racionalmente suicídio, mas ter ânsia suicida durante um ataque de pânico foi novo pra mim. Literalmente durante a queima de fogos. É como querer se matar durante um momento de ausência de racionalidade. Isso dá medo.

E assim seguiram minhas férias. Cancelei várias viagens. Cancelei várias festas. Me afastei de todos os meus amigos e atravessei janeiro com os braços cortados e o suporte de alguém ruiva que eu amo muito e que se não fosse por ela talvez eu não tivesse chegado até aqui
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Ainda assim eu persistia na ideia de continuar no DACON e fazer acontecer. Conversei com meus amigos da UFMG e eles tinham extremo interesse em fazer uma Porcada + Macacada. Uma festa entre UFMG e Milton. Entrei em contato com as atléticas do IBMEC, Ciências Médicas e com a produtora Build, que faz o Chamado do Grifo, e tentaríamos organizar no estacionamento da faculdade um evento para 4 mil pessoas durante um super por do sol no fim do semestre. Esses eram meus planos.

Só que eu havia sido rebaixado a diretor social e minhas tentativas de conversar com qualquer pessoa da diretoria eram ignoradas. Eu fui tratado como funcionário. Meus projetos foram tratados por ridículo. Fui cortado dos grupos de whatsapp e nenhuma resposta das minhas reclamações veio de direção nenhuma. O que me deixava mais angustiado e me piorava mais.
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<3 nbsp="" p="">Fui expulso de fato, ainda que não de direito.

Então veio o Planeta Brasil.

E eu vi pela primeira vez, ao vivo, meu vice presidente e o segundo tesoureiro lá na festa. Por um minuto.

E enquanto muitos de voces curtiam shows e espetáculos no Planeta, eu passei uma hora e meia tendo um ataque de pânico depois disso, tentando serrar meus braços sem consciência enquanto quatro bombeiros me seguravam na grama e eu olhava a luz de um poste do topo do Mineirão fixamente.

E depois disso os planos mudaram. Passei a considerar que eu não tenho condições de continuar com essa luta. Considerei todas as formas de vingança possíveis dentro dos meus pensamentos obsessivos mas não há nada que eu possa fazer contra essas pessoas e contra o que elas fizeram comigo.

Elas já me destruíram. Eu não tenho condições de voltar pra faculdade que eu amo, porque não tenho condição de conviver com elas na situação emocional que cheguei. Eu lutei com as forças que eu tive até aqui, e foi só aqui.

Dois dias antes das aulas começarem, conversei com meu pai, e vou transferir para a FUMEC.

Venho por meio deste texto, renunciar ao cargo de Presidente do Diretório Acadêmico.




Peço que entendam minhas razões. Que foi muito difícil pra mim expor minhas fraquezas dessa forma. Existe um preconceito extremo contra quem sofre doenças mentais. Mas tenham certeza de uma coisa: Eu não sou psicótico. Não tenho ilusões erradas da realidade. Sei exatamente tudo que se passa ao meu redor. Me falta na verdade, força física e mental para suportar maldades deliberadamente cometidas contra mim, quando tudo que eu tento fazer, é o certo.

Eu tenho defendido sempre que a Milton Campos precisa restabelecer seu ego. Que os alunos precisam voltar a ter coragem pra participar das atividades extra classe e movimentar grupos de estudos, palestras, Atlética. Participar da Baterrica, dos times de handbol, atletismo. Ser representantes de turma. Refundar o Conselho de representantes. Tenho defendido isso por todo esse tempo. De certa forma, eu havia decidido tomar um tempo maior para formar para fazer esse movimento político nos corredores.

É uma pena que eu não vá conseguir completar o que comecei. Saio na consciência limpa de que deixei muitos calouros com a visão de faculdade que tenho. De que se eles não fizerem, ninguém fará. Se eles não montarem chapas e brigarem pelas eleições no DACON, outras pessoas desinteressadas ocuparão cargos e farão com outros o que fizeram comigo. Se eles não entrarem para a Atlética e participarem das equipes e treinarem, as medalhas não vão vir. Se vocês alunos não se juntarem aos professores e ganharem competições de arbitragem ou publicarem artigos e livros, o nome e o peso dessa instituição vai ser desmerecido até ser esquecido.

Quase todas as faculdades já são povoadas por alunos apáticos que assistem o mínimo necessário de aulas, fazem o mínimo necessário de pontos e formam com o mínimo necessário de esforço. A Milton Campos não precisava ser uma delas. Minha atuação no DACON foi com essa visão.

Deixo de legado essa ideia. E saio com a tristeza de que não sou nem mais diretório, nem mais Milton Campos.




E sobre as pessoas que me traíram, bom. Lissa, Afonso e Alexandre. Espero que 6 meses de trabalho voluntário num diretório tenham valido 7 anos de amizade e todo o mau que vocês me causaram. Se me verem algum dia, não me cumprimentem.

Karen e Bruno. Já que tomaram a decisão de criticar o meu trabalho depois de não terem feito literalmente nada, espero sinceramente que voces façam qualquer coisa que seja esse semestre. Especialmente você Karen, que teoricamente vai ser vendida como futura Presidente por esse grupinho aí.

E Moreno. Não tem muito o que dizer. Você falou em reunião que todas as pessoas do mundo te odeiam e você não liga. Que seu ensino médio inteiro te odiava e você não ligava. Que o décimo período pode te odiar por cagar a revoada e você não ia ligar. Eu sei que se eu me matasse você e o Bruno iriam no Vila da Serra tomar uma cerveja pra comemorar. Então não tem muito o que dizer.





E aos amigos e colegas que leem este texto, saibam que podem contar comigo. Mesmo de longe farei o possível para ajudar os alunos e a Atlética com meus recursos e minha agenda e meus contatos e meus esforços para tudo o que precisarem.

Colegas. Tomem o Diretório e façam ele grande de novo. É uma pena que o DACON seja mais palco de intrigas do que de trabalho. Que as pessoas vão pra lá mais pra brincar de Vaticano ou promover partidos políticos que pra trabalhar para os alunos, pelos alunos, com os alunos. Pelo tempo que passei na faculdade, foram briguinhas demais e trabalho de menos.

Gostaria de lembra-los que a contribuição ao diretório acadêmico é opcional. Porém ela acontece de forma compulsiva a dois semestres. 90% dos alunos contribui para o diretório com 50 reais e não sabe. Não sabe também que pode em qualquer tempo ir até a tesouraria e buscar esse dinheiro de volta.

Caso façam isso, entreguem o dinheiro ao Richard. Juro. O trabalho dele na Atlética está simplesmente maravilhoso. A Atlética tem muita estrutura e faltam recursos.


Bom. Recluso agora no objetivo simples de formar. Dedicar aos conhecimentos no direito público, especialmente direito tributário, que tenho tanto interesse e tenho tido tão pouco tempo pra me aprofundar. Dedicar a minha namorada e a viagens. Dedicar especialmente tempo a psiquiatras e psicologos, aos remédios certos e a descobrir se existe algum diagnóstico do que tenho, já que todos pelos quais passei até então disseram que não tenho nada e me deram pastilhas Tic Tac que não ajudaram em nada nessa aventura toda.

E quem sabe a paz, de desabafar esse texto, que para você que lê não sabe a montanha Himalaia de pedras que sai do meus ombros, de contar tudo isso ao mundo, não me traga a paz que eu precise pra recomeçar.

Meu deus do céu, eu estou completamente perdido.

Que ótima hora pra ter uma ideia unicórnio e virar um bilionário.

Obrigado por escutar minha história.

Amo todos vocês (menos alguns)





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