Carta Aberta de Desculpas ao Bom Entendedor

Por Antonio Fernandes

Com as devidas vênias aos surdos, lavadeiras e palhaços, dirijo-me aqui aos bons entendedores. Afinal, à bom entendedor, meia palavra basta, e eis as minhas.

Do caso.
 Foi naquele tempo de discussão, injuriado de ouvir falar de pró-cotas e contra-cotas, que me cansei. As pessoas eram mais rápidas em se posicionar que em pensar. Eu vi lindos argumentos voando, e falhas tão imbecis quanto. Mas não é possível conversar com o burro que empaca, então eu o fiz: organizei a terceira via. Sozinho. Montei o manifesto e fui, arregimentei amigos, falei pras amigas chamarem as amigas, corri atrás de cartazes, marquei duas reuniões, conheci centenas de pessoas sensacionais e no dia marcado fomos pra rua. Pelo quê? Pela educação, e não pra mais ou menos cotas. Afinal o problema todo era os garotos das escolas públicas não terem ensino, certo? então o óbvio era dar qualidade de ensino.
Fomos pra praça da liberdade, umas Cinquenta pessoas. Marchamos em volta da praça, fizemos um debate no coreto, em torno dumas cem pessoas na rua pararam pra assistir e vários dos passantes participaram. Marchamos juntando agregados até a Savassi e invadimos o Pátio até sermos expulsos por seguranças.

Burguês, uns diriam. Bom, talvez. Mas eramos burgueses querendo os mesmos direitos que tínhamos para os outros, e julgar mal isso é comungar com a opinião retardada e imbecil (datas vênias aos supra-citados) de que só por ser homem é preciso ser machista, por ser hetero, homofóbico, por ser branco, racista, e por aí.
Nos manifestamos, gostamos. Tentamos continuar, não foi possível. Muitos seguiram caminho depois daquele manifesto, eu permaneci adormecido do meu lado político até as grandes manifestações recentes. Não deixei de tentar arrancar as pessoas da inércia, claro. Pelo contrário, uma lida pelo meu blog afora, ao longo de todos esses anos mostram quase todos os textos engajados com alguma espécie de revolta, tentando incitar alguma espécie de avidez daqueles que me leem. O fato de escrever isso desde sempre, creio, prova o fato de ter estado sempre, a todo momento inquieto com relação ao mundo que me cerca e aos absurdos que vejo.

De toda forma, dia desses meditei umas coisas simples, sobre como o ano já havia quase atravessado e apesar da Copa e das eleições estarem batendo a porta, vejo todos segurando-se em suspiros. Apontando pra longe e dizendo "olha, as manifestações que vem!"virão, virão, mas ninguém planejando começa-las. Não sei como os movimentos sociais se articulam com isso, não sei como os partidos se articulam, como os interesses se articulam. Decidi, por vontade espontânea, fundar um movimento. "Away". "Saê".

Seguindo para o motivo principal dessa pauta, conhecia o sr.Otávio Guimarães já antes, dos tempos da van, quando estudávamos no Magnum Cidade Nova. Lembro-me distantemente de que mostrei pra ele o livro que escrevia, na quarta série, e que ele fez um livro também, na mesma época. Publiquei o meu, não sei o que foi do dele. Mas de toda forma, se bem me recordo ele foi no meu manifesto da liberdade.

Fiz o evento no facebook e comecei a chamar uma série de amigos pra me ajudar. A divulgar, a falar, a convocar, essas coisas que todo movimento precisa, como quem organiza uma festa. Numa dessas convocações conversei com o Otávio, que me perguntou se eu procurava por ele mesmo, ou se o procurava como membro do CAAP da UFMG. Perguntei a ele se como membro do CAAP poderia me ajudar. Ele disse que era preciso ver, que eu fosse a uma reunião e que escrevesse um texto para ser pauta para a reunião. Escrevi uma "Carta Aberta ao CAAP", aqui no blog, não para ser lida "pelo mundo(!)" mas para ser fácil acesso para os membros do CAAP, apesar de saber que era pública - "Pública" - e não me importar com isso, porque sabia que tratava de temas transparentes e importantes.

Na construção da Carta Aberta, percebi que minha manifestação não tinha poder nenhum de empoderamento, não era capaz de mobilizar realmente as pessoas. Principalmente porque estava esvaziada de objetivo e capacidade real de mudar algo(isso seria me jogado na cara por uma membro do CAAP adiante. Uma senhorita, na verdade, de quem gostei muito), e tudo que ela expressava(a carta) era a mera revolta contra as realidades. Lembro-me disso ter me passado vagamente pela mente ao cria-la, mas agi mais pelo impulso do que por uma percepção da realidade de fato.

Fui no outro dia à reunião. Conversei sobre as diferenças entre a Milton Campos e a UFMG, dum jeito descompromissado. Era engraçado e perceptível, enquanto a faculdade deles tinha pichações e uma inquietação de séculos, a nossa parecia um lar da lei e da ordem. Não prefiro nenhuma das duas. Creio que é importante que hajam ambas até, para que a democracia se mova do jeito que é bom. Dentre essas discussões sobre faculdades falei sobre a situação das eleições da Milton Campos, como à mim se parecem, minha impressão, o que achei que ocorrerá.

Durante a reunião, frisei que estava lá como aluno independente, não pertencendo a nenhum grupo da Milton Campos. Que talvez, mais a frente, eu viesse a me tornar membro do Diretório Acadêmico, que até gostaria de ser membro, mas que ainda não o era. De toda forma naquele momento eu estava lá pela minha manifestação, já desacreditada por mim mesmo, na intenção de buscar apoio num grupo que me surgiu enquanto eu divulgava-a.
Senti-me absolutamente sem bases falando com eles, já que o próprio texto que escrevi me retirava os motivos de estar lá, mas mesmo assim fui e mesmo assim aprendi um bocado. Sobre como funcionam o movimento estudantil e as associações, minha verdadeira vontade como aluno da minha própria faculdade, querendo recriar laços entre M.Fields e as outras instituições, e deliberações boas do tipo. Tanto engajar a faculdade nos movimentos importantes, cobrando realmente coisas dos políticos, como agir com congressos acadêmicos e atividades de forma em conjunta às outras faculdades. Dividir festas. Essa foi a grande vontade que saí movido de lá. Não sei se tentarei ou se se concretizará. Se eu tiver uma ambição, de alguma forma, será esta. E para diretório acadêmico, não almejo, hoje, nada mais do que isso. E nem "almejo hoje para o futuro", como uns gostam de costurar. E nem sei se concretizarei. Essa foi a mera vontade com que saí movido de lá.

Que dizer? Parece uma história dessas, perdidas. Sozinhas vagando pelas noites de lua da capital mineira. Parece. Não fosse, não fosse? Ah sim! Duas horas depois uma colega do diretório estava me inquirindo sobre eu ter ido na UFMG. Ela tinha certeza absoluta que fui pra lá por auto promoção, que atropelei o Diretório Acadêmico, fui idiota, difamei, difamei, difamei o Diretório Acadêmico e que eu era um Sarney da vida. Parece que alguém da UFMG contou sua própria versão do fato, seja lá qual seja, e parece que ela e o presidente do Diretório ficaram sabendo quase que antes de mim (!) da minha ida ao CAAP. Hoje, eu me orgulho muito de saber que deve haver um bocado de gente falando, inclusive uns que sequer me conhecem, já que chegou de volta pelas bocas mais improváveis. Pelo que sei, a maior parte do meu próprio turno sequer sonha desses fatos. O que reconfirma minha felicidade em estar sendo motivo de conversas de centenas de pessoas que nunca me viram nem sabem quem sou, da manhã.
Apenas, um nome. Talvez seja "O Antonio, da noite.Um idiota do terceiro período."

Eu "si divirto." ha ha ha

Traçarei desculpas quão sinceras quanto minha ironia permitir, aos bons entendedores. Não é que queira ser irônico, quero sinceramente ser sincero, mas se ler mais de dois escritos desse blog há de constar que não sei não ser irônico.

Sinto muito por não ter dado "satisfações a ninguém" antes de ter ido ao CAAP por minha "conta e risco". Não achei que precisasse dar a mão a ninguém antes de atravessar a rua, principalmente em se tratando de uma "manifestação de facebook". Sinceramente, conheço a Milton Campos, sei que a maior parte dos alunos é de direita e não costuma frequentar aglomerações que não sejam no Chalezinho e nem considero isso ruim, só sei que eles não são meu público alvo. Como Diretório instituição, não sei também o que eles podiam fazer estando sem verbas como estão, nem imagino o diretório da Milton Campos divulgando uma passeata desponderada. Também nem acho isso ruim nem bom, como explicarei mais a frente.

Sinto-me muito também por ter "difamado" o diretório acadêmico. Dizendo, bom, direi o que disse exatamente.

"Havia percebido na época que fui ao CAAP conversando com as pessoas, que o diretório estava sem apoio depois do corte de verbas. Que havia uma crescente insatisfação dos alunos contra esse diretório, que não estava muito mais bem quisto. Percebi que haviam pessoas com "certa capacidade" insatisfeitas. Não uma, nem duas, mas várias. Percebi as eleições para presidente se aproximando e citei os grupos que pensei na época que pudessem disputar esse eleição, que seriam três ou quatro. Não valem a pena ser repetidos publicamente por respeito a colegas, e também pelo tempo já ter mostrado que minha previsão estava errada. O quadro que imaginei não representa o quadro que hoje imagino." Não transformarei esse post num auê político. Achei e errei. Falei o que achava na época.

Vou ser breve em dizer que não creio ter dito nenhuma inverdade "difamadora". Falei o que pra mim é conhecimento público da Milton Campos. Não sei que mal é esse em comentar os problemas que sejam da minha faculdade em outras faculdades. Que problemas são esses que não podem ser públicos? Briga do DA com Barcelos? Impopularidade do DA? Que uma eleição vai acontecer e existem pessoas querendo se candidatar?

Que difamação foi essa?

 Particularmente, eu gosto do diretório atual. Tenho vários amigos por lá, conheci muitas pessoas, gostei muito de quem conheci. Acho o João Gabriel um excelente Presidente, sinceramente. Como pessoa e como gestor. Imagino os problemas que ele enfrenta. Sei que o tal "grande erro da gestão" foi ter enfrentado o Barcelos, mas sinceramente eu teria feito a mesma coisa e incentivado a mesma coisa na mesma posição, creio que agiram de extrema boa fé. Fazer tudo o que fizeram. Apoiei-os. Falei na manifestação que montaram, fui nos dias que não houve aula, quando possível foi. "Je ne regrette pas rien." Não me arrependo de nada. Não sei se a posição que tomaram depois da perda das verbas foi certa ou errada. Imagino o peso que fica nas costas do Presidente decidir se continua enfrentando o CEFOS, mesmo após a facada, ou se se resigna e tenta reconversar laços.

Sinceramente, eu gosto do DA, apesar de saber que sou principalmente difamado por eles. Por sequer terem se dado ao trabalho de me perguntar o que eu fui fazer lá. Por tomarem todos os preconceitos de mim. Eu não os culpo, como não culpo ninguém. Tenho feito a mesma coisa toda a vida como todos tem. Nossa sociedade de hoje é simplesmente pautada em pré conceitos, já que ninguém tem tempo de se aprofundar em nada. Eu talvez tenha feito a mesma coisa em várias situações, aliás, provavelmente faço, já que é assim que vivemos hoje. Exatamente por isso escrevo esse texto. Para os "que querem ouvir".

E o que nos resta dessa história toda? Bom, como palavras são sempre palavras, tão leves, ao vento, nada. Me senti compelido a dar todas essas explicações do acontecimento. De que baseado na minha primeira manifestação, fui fazer a segunda. De que fui convidado pelo Otávio ao CAAP. De que fui ao CAAP como eu mesmo. Que fui lá mais movido por uma vontade de fazer o bem que interessado no "poder e influência" que fosse, onde quer que eu fosse ganhar isso pedindo ajuda pra fazer de outra faculdade pra fazer um protesto. Que a reunião foi boa, pra mim, pessoalmente. Deve ter sido peculiar a quem quer que seja, do CAAP. E não tinha intenção de envolver Milton Campos que fosse. Que  Essa "meia-palavra à bom entendedor", creio eu, um pouco longa, vai bastar. Está aqui escrito pra todo e qualquer um ler, imagino. Nem vou convencer aqueles que em data vênia citei. Nunca vou. Ninguém vai. Fica aqui publicada a minha versão dos fatos. Afinal, se sou difamado "publicamente", acho certo que haja uma palavra minha, também posta "publicamente", pra quem quiser ouvir. Não tem heroísmo nenhum, nem grande aventura nenhuma, nem nada real, de fato, concreto, acontecendo.

Só bastante gente falando mau de mim. Não precisa passar mal.

Deram-me, os supra citados, o trabalho de me explicar publicamente aos bons entendedores, porque não tenho nada à esconder afinal. Desse texto, e do meu facebook, estou aberto a todo tipo de pergunta que quiserem fazer. Pra mim, e não pelas costas.
E tenho certeza que bons entendedores entenderão.

Porque na minha última sinceridade, por favor. Convencer surdo, lavadeira e palhaço é que não tem condições.





"Fa-lá-dor passa mal, rapá! Falador passa mal!"
Originais do Samba, relido na Cone Crew


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