A Canção do Profeta

Por Antonio Fernandes


Esta poesia foi baseada em "The Prophet's Song", do albúm "A Night at the Ópera". - Queen.





Há um terror
nos princípios da viagem
antes que a dietilamida
do ácido lisérgico
acertasse meus neurônios como num
transe
e sua potência fizesse valer
o atravessar do desfiladeiro
as cores do quarto coloridas
meus amigos derretendo
mas não antes que
logo depois me acertasse
a meta
e a euforia se erguesse
num clamor estrondoso
posso saltar, pular
posso correr e cavalgar
vou saltar até
partir a terra
sou o homem mais feliz
do mundo e veja
nada além do que
química
as pessoas a volta sorriem
tenho-os guiado neste
transe nesta
festa
tenho-os dito que ficará tudo bem
se levarem seus corpos e corações
até os limites da capacidade humana
e atravessarem ao outro lado
da fronteira
não há tabu em transar
todos se beijam
corpos suados cavalgam no escuro da noite
mas veja
já é de manhã
escutem-me pois
sou o profeta
fumem seus cigarros
pois que lhes matam
bebam do alcool
pois que lhes envenena
usem da droga
pois lhes levam a uma realidade
que quando voltarem a esta
já não será suficiente
tal expansão de mente
não possui
downgrades
Quando Lúcia atinge
o céu dos céus de diamantes
nunca mais irei
dormir
pois é flertando com a morte
dirigindo à altíssimas velocidades
até que peguem fogo os céus
e dele desça uma carruagem
onde o profeta te levará aos êxtases
vocês que se dizem juristas aqui
são só
corpos
mentes
que pulam que saltam
que riem que beijam
que se devoram
aqueles que conosco tiverem
não há voltar atrás
nestas bandas todos
digo todos
tem vinte verões
são jovens e fortes
e abusam seus corpos
como se não houvesse fim
quem quer
viver para sempre?
Quem quer viver
para sempre?
pois cá nós
vivemos para sempre
indestrutíveis belos
elas tem tetas esculturais
rabas magníficas
eles com abdomens cortados
os paus rijos se vê
através das calças
se gozam se riem se agarram
se metem
onde não devem
somos aquilo que atravessa a liberdade, beira
a libertinagem
sigam-me pois sou o
profeta
e lhes digo que a morte
é a sensação de estar vivo e a vida
tem um gosto maior
ao sentir o sabor da morte
quando morreis
meus caros
já não estarão aqui
morrer não dói
o que dói é estar vivo
olhe essas pessoas coloridas
derretendo à minha frente
deus do céu
que foi isso que eu tomei
será benzedrina ou erva?
Nara ou Gabriela?
Quem deu foi
Helena ou Maria?
não me lembro o nome dela
Perdeu-se na carne fria
há flashs
e apagões de memória
são dias e noites e dias
e festas e jogos e mais festas
nunca mais
eu vou dormir
estou nos jogos, amor
siga-me
pois sou o
Profeta
e entre nós
terminará quando
acabar
e não acaba
então não termina
entre nós
não há regras
não há política
não há passado
nem futuro
entre nós
estamos aqui e agora
e todos se amam
sigam-me pois sou
o profeta
Há alegria em vidas tristes
há vazio em vidas sem sentido
mas o sentido
o sentido de estar vivo
o sentido de aproveitar o momento
o sentido de descobrir a razão
celestial
pelo para que veio e para onde ir
a razão incognita das estrelas
é de estar aqui, neste quarto
drogado
com pessoas que nem conheço
e considero tanto
tragadas fortes de alcool
acho que me apaixonei
por essa donzela
chamada Corote
e vou de euforia
vou descer deste quarto
atravessar o saguão
caminhar nas ruas
embriagado
com embriagados
vou beijar quem nem
meu rosto lembrará
mas naquele momento
nos amamos para
sempre
e caminhando na rua
lá no fim
há um grande palácio
de cores fortes
mais fortes agora
que estou louco
e neste palácio estão alojados
seres que poderiam ter bem saído
de um quadro pintado sobre
a obra de Dante
de Alighieri
Aqui é o inferno
e os valores cristãos foram queimados
até os alicerces e nesse palácio
correremos pelados
e ninguém há de nos impedir
Sigam-me
pois sou
o profeta.


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