Um Garoto de Aberdeen #2 - Mickey & Lennon

Por Antonio Fernandes
Maio de 2012


- I've paid my dues - Um par de sapatos oxford desamarrados caminham nas pedras - time after time - a sirene da escola toca, mas ele já está fora - i've done my sentence - ele ri, por ter conseguido escapar da aula de educação física - but committed no crime - Ajeita os cabelos loiros quando escuta alguém gritar seu nome:
- Ei! Kurt!
Ele espera.
- Qual o seu problema? Se mandar daquele jeito da aula de educação física? A professora quase te percebe.
Kurt ri.
- Não esquenta, ninguém vai descobrir.
- Nesse seu estado? só se seus pais forem cegos.
Kurt olha as próprias roupas, completamente destroçadas.
-Vou dizer que jogamos futebol denovo e me colocaram como runner. Que tal aquela garota que disseram gostar de você? - Gargalhada.
O outro fica vermelho.
- É a Tracy, bobagens que esses idiotas ficam inventando por ai.
- Sei Mike, sei. Bom, até amanhã, brow.
- Ei Kurt, vai experimentar erva com agente no fim de semana?
Ele fecha a cara.
-Dessa vez não, talvez outro dia.
- Bom, então até mais.
- Até. -And bad mistakes.- Ele vira numa esquina e Mike segue em frente - -A've made a few - Vê uma viatura da polícia passar - I've had my share of sand - Mostra uma cara feia e a língua para o policial. - Kicked in my face - canta, vendo o policial mostrar o dedo do meio e uma cara fechada, ele ri - but i've come through - e gargalha.

Toca a campainha e o pai abre a porta.
- Já sei, você jogou de runner. Corra e se apronte pra irmos pra casa do seu avô. - O garoto ri e desaparece, o pai sorri.

Kurt pega seus desenhos e algumas folhas para mostrar pra avó. Toma um banho mau tomado e desce as escadas com a camisa do avesso. Sua mãe o faz vesti-la certo e penteia seus cabelos, sua irmã já está pronta. - Vamos? - Diz o pai.

Toca a campainha e o avô abre a porta. Com um largo sorriso.
Um pequeno Kurt se joga nos braços dele.
- Meu Deus do céu, garoto. Você não vai parar de crescer? - O menino mostra os dentes de leite e balança a cabeça.- Logo logo é seu aniversário de 8 anos ein? Deus, como esses garotos crescem rápido!
O velho o deixa escapar para dentro de casa, ajoelha e olha a irmã pequena, dá um grande abraço nela e a ataca com cosquinhas. Ela escapa também, no que ele se levanta.
- Façam favor, vocês dois são bem vindos a minha casa. Um chá Wendy?
Ela balança a cabeça e entra.

Kurt já está sentado no piano, e toca mais rápido do que deveria a bagatela Für Elise que aprendeu sozinho, ouvindo os discos. Sua avó sorri pra ele, se acomoda a seu lado e toca a introdução de uma outra música, já esperando seu pequeno netinho entrar com todas as notas no lugar certo, toda a casa para para ouvir o dueto.

Imagine there's no heaven,
its easy if you try.
No hell bellow us,
above us, only sky.

Imagine all the people,
living for today!

A mãe suspira, pra sempre apaixonada pela voz do seu pequeno mocinho. A mais nova se inspira nele. O pai senta-se a mesa e o avô trás o chá. Serve o pai e olha com gosto para o neto.
Terminam de tocar a música e são aplaudidos.
- Vai ser o próximo Frank Sinastra! - exclama o avô bebericando o chá quente.
Os adultos sentam-se a mesa e se acanham para começar a conversa que os trouxe ali. Wendy decide acabar aquilo de uma vez:
-Papai, nós viemos aqui...
-Vovô!
-Fale comigo pequeno Mr.Donald.
-Olhe meus desenhos vovô!
O velho pega alguns papéis com um sorriso, mas o sorriso desaparece ao ver o trabalho - você não desenhou, você copiou por cima. - e devolve o Mickey Mouse perfeito para o garoto de apenas cinco anos.
-Não copiei não! - Ele está furioso, a beira das lágrimas - espera, vou te mostrar.
Kurt corre, pega um papel e seu lápis, senta-se ao lado do avô na mesa e se põe a desenhar.

O velho apóia o braço nos ombros de Kurt, dá uma breve olhada nos traços que ele começa a rabiscar - Continue, Wendy.
-Não seria melhor mandar as crinças brincarem lá fora?
-Bobagem, o pequeno aqui está tão entretido com seus desenhos que duvido que vá prestar atenção na conversa. Fale minha filha, o que foi?
Ela suspira, bebe o chá e fecha os olhos, contendo as lágrimas.
- Nós...
-O que sua filha quer dizer, senhor Fradenburg, é que não vamos conseguir pagar o aluguel denovo.
-Se você trabalhasse mais, Don, não estariamos nesse estado!
- Olha essa? se eu trabalhasse mais?!
-Acalmem-se vocês dois - diz o velho - de quanto vocês precisam?
-Cinquenta dólares, papai.
-O que precisamos é que sua filha pare de fumar pra ganhar mais gorgetas.
-O que nós precisamos é que você consiga consertar mais carros ao invés de fumar o dia inteiro, querido.
-Olha essa? Está dizendo que eu não trabalho?
- Tanto quanto você diz que eu não trabalho.
-Parem com isso vocês dois! Ficam brigando por dinheiro já tem anos! Quando isso vai acabar?
Os dois se olham aflitos, estampado no rosto que já discutiram sobre como aquilo deveria acabar.
-Olha vovô!
Kurt exibe um desenho do Pato Donald eximiamente perfeito. O velho sorri e pega o desenho, dá um tapa nas costas de Kurt e o parabeniza. O garoto pula da cadeira e corre para dentro da casa.
-Tomem aqui, os cinquenta dólares, e não quero saber de vocês dois discutindo por dinheiro!
Wendy fala alguma coisa, Don retruca, e logo voltam a discutir. De começo baixo, até que o volume da briga aumenta. A pequena Kim começa a chorar, sua avó a pega no colo e começa a tentar acalma-la. Os dois discutem horrivelmente. Um barulho de bateria surge baixo e logo começa a disputar o som com a voz dos adultos, até que o homem perde os limites:
- Desliguem essa droga de rádio!
Mas o rádio está desligado. Uma confusão transpassa a todos na mesa enquanto a bateria não cessa. Eles se levantam e vão até o quarto onde Kurt, sentado na bateria do avô, toca de modo fenomenal.
-Vejam só, se ao invés de um Frank Sinastra não temos um John Bonham entre nós.

Mas o clima é tenso. O garoto toca enquanto chora. Derrepente para.

-Parem de gritar, por favor?

As baquetas caem no chão.


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