Faces do meu Dominó

Por Antonio Fernandes

Sou caos
Quando estou só 
Sou escravo
Quando estou em dois
Sou agente
Quando estou sozinho
Sou cogente 
E não compartilho 
Sou lobo de príncipe 
Solitário 
Sou príncipe de lobo 
Quando compartilho
Quero meu amor e compartilho
Quero seu amor independente de tudo
Acho que li Shakespeare demais
Queria ser Romeu que morre 
Pela Julieta
Mal sei que Romeu morreu
Aos 16
Já não tenho idade pra ser Romeu
Queria ser um astro de rock
Que morreu aos 27
Hoje tenho 27
Não quero morrer agora
O dilema ético epilético 
De dar golpe em todo mundo 
O dilema moral trágico 
De repetir o golpe em voce
Todos os dias
Devo demais lá 
Devo demais cá 
A balança da libra quebrou 
Tem libras demais dos dois lados
Parecia equilibrado
Mas era falso
Peso demais os dois lados
Cateto de constante
Repleto de informações 
Vou conquistar o mundo
Vou conquista você
Vou pegar as estrelas
Mas nao saio da cama
Não saio das ideias
Não saio do ensaio de flerte
Barato e criativo
A fantasia que vesti é bonita
Mas nao sou meu personagem
Eu sou eu
Ainda que tenha usado a fantasia tanto tempo
E com tantas pessoas
Que tenha vendido o personagem até pra mim mesmo!
O ator não mente 
Ele apenas faz de conta
Como disse Emília à Narizinho
Toda verdade
É uma mentira bem contada
Mas todos lá fora
Vivem de suas próprias fantasias
E eu, com minha fantasia 
Sou mais certo?
Ou menos certo?
O que sou por dentro do ator
Que criei, de mim
É alguém que sonha
Que é criativo
Um ser livre pensante
Curioso, por natureza 
E amigo de todos
E da paz
Fora isso
Tudo são invenções deste palco
Deste roteiro confuso 
Mal escrito
E dessa fantasia que já 
Não sai do meu corpo
O príncipe errante
O lobo preocupado
Ambos buscando devorar
A princesinha do conto de fadas 
Mas não é nada disso que
Eu quero 
O que eu quero é que o príncipe
Cuide do reino
E que o lobo
Cuide da matilha
E que a princesinha 
Não seja princesinha 
Coisa nenhuma
Mas seja uma rainha
Mulherão da porra
Que Cuide do seu próprio reino 
E que nossos reinados façam alianças 
E livre comércio e que nosso povo prospere junto e amigos 
Não preciso de princesa indefesa
E nem de quem eu precise salvar, ou devorar, ou os dois (e não seria uma coisa como a outra? Duas faces iguais da mesma moeda?)
Haja amor no mundo
Para todo o amor que distribuo
E toda essa gente que recebe
Migalhas do meu amor 
Não lhes sacio a fome
Haja caminhões no mundo
Que carreguem todo esse meu amor
Que vou descarregar 
Em cima de você
Bem em cima
E voce que aguenta
Queira bem, queira Mal
Ou queira descrente
Abre espaço no terreiro 
Que lá vem cal
Não, não é necessário 
Não é preciso 
Já fui Otário salafrário 
Morri do golpe
Dei golpe ao contrário 
E ainda que toda essa história 
Não tivesse me ensinado nada
As cicatrizes ensinam
E o animal não volta no mesmo lugar
Em que caiu na armadilha
Duas vezes
Já me machuquei demais
Mas sou
Como dizia um velho amigo meu
Que já não nos falamos mais
Poeteiro
Poetisto 
Poemista
Pessoa que rabisca de tinta
Versos de palavras
Que não querem dizer coisa alguma
Se não emoção 
Sou emocionado disforme
Apaixonado pelo próprio reflexo de mim e desse
Meu mundo imaginário 
Ideário 
Sou artista poemista
Sou poeta 
E nao há pragmático racional que eu não inveje 
Só por não ser eu
E sabendo-me criatura do amor
Da carne, do vinho, do suor
Venho riscar essas palavras
Para dizer que 
Sempre terei esperanças 
Ainda que me machuque cem vezes terei esperanças 
De encontrar o equilíbrio 
E a rainha
E a paz dentro de mim
Para Me governar
Contraditório 
Ser o animal que se machuca
Mas retorna Para
Se machucar de novo 
Contraditório ser emocionado demais
Para o mundo da razão 
E racional demais
Para o mundo dos emocionados
Contraditório ser
O personagem da ficção 
Que eu mesmo criei
E atuar a mim mesmo
Como minha melhor versão 
(E seria essa a melhor versão?)
Acendo um cigarro
E vejo na fumaça 
A reflexão de todos 
Os meus pensamentos 
As pessoas vivem 
Seus próprios dramas
Eu existo nos meus
Posso fazer de mim
Algo melhor
Todos os dias
A revolução 
Não está lá fora
Se não a revolução 
Que eu causo em mim
Que causa a mudança 
Do mundo lá fora
E enquanto as pessoas 
Não se ligarem
Que o governo e o Planalto 
E um líder demente atrás de outro 
Não é resultado das demências delas mesmas
O mundo vai continuar assim
A democracia começa na sua própria casa
Você compartilha as contas
Com seus filhos?
Você chama seus pais
Para verem o calendário 
Do seu dia?
Se nós não compartimos com o outro
O que somos e o que queremos
Como exigimos democracia
De 513 perdidos assim como 
Nós?
O amor é democrático 
Ele troca, compartilha 
E evolui junto
Além disso
Existe apenas guerra
Dos sexos, de Freud 
E de pessoas que 
Amam-se Para suprir 
Uma carência que tem dos pais
Na adolescência 
Você não ama quem você ama
Você está tentando dar
A sua namorada
O que sua mãe não te deu
Quando você era novo
Não aceito mais
Ser reencarnação do papai
De ninguém 
Não aceito mais
Fazer de ninguém 
Minha mãe 
Freud que vá se fuder
Tenha comigo 
A promessa
De amor verdadeiro 
Não predições 
De uma adolescência 
Mal resolvida 
Maturidade, honestidade
Independência 
São as qualidades
De alguém para amar 
E no meio tempo
Quando livre, quando solteiro
Um cuidado especial 
Comigo, com minha mente 
Com meu corpo, com meu futuro
Construir um eu compartilhavel e bom
E nao preciso repartir 
Tanto esse pão 
Posso torna-lo mais gostoso
Se dividi-lo com gente
Que saiba aprecia-lo.
Este é um ode
Ao meu sofrimento de razões 
E emoções 
Uma tentativa de fazer o corpo conversar a alma
Junto ao cérebro
Para fazerem de nós três 
Um eu saudável e livre
Seja de uma forma
Ou de outra forma
Pode não ser claro Para muitos
Mas é mais claro pra mim
Agora


Amor é uma palavra complexa
Para um sentimento
Simples 
Que queremos do amor
Se não amar, e ser amado?



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