Complexo de inferioridade

Por Antonio Fernandes

       Vim aqui lhe dizer algo que está precisando ouvir há bastante tempo. Algo que talvez no íntimo do seu ser, você já tenha se dado conta, mas não quer aceitar por teimosia.
       Não é culpado por essa teimosia, afinal ela está geneticamente embutida no seu ser, pela razão natural de que, para sobrevivermos e mantermos a espécie, devemos ser teimosos em determinados pontos de nossa vida.
      Mas indo direto ao ponto, o que eu vim lhe dizer é:
      Você  é um nada.
      É verdade, você é um ser insignificante, tão pequeno que não chega a ter valor algum... De todos os ângulos dos quais você olhar, se verá um completo inútil, e verá que a maioria das coisas em que você acredita, são sem sentido...
      Algum gênio que viveu há talvez 200 anos, afirmou que, “quanto mais conhecimento um ser humano portar, mais insignificante e inútil ele saberá que é, e mais importante ele pode vir a se tornar, apesar de sua insignificância.”.
      É preciso conhecer a própria inutilidade em todos os sentidos para poder vir a se tornar útil, e é por isso que escrevo esse texto, para tentar mostrar a estes seres humanos orgulhosos, todos os motivos para se desorgulharem de sí mesmos...
      O primeiro ponto que quero dar ênfase é no setor social. Abre os olhos, ninguém se importa com você! Está impregnado no DNA humano apelar apenas para a própria sobrevivência. As pessoas só farão coisas boas se isso trouxer um retorno a elas, seja social, seja econômico, ou seja psicológico. Se alguém faz uma doação milionária para a África, no fundo não está com intenção de ajudar aquelas pessoas, mas apenas de aliviar um peso na consciência, já que, durante as horas e horas que ficou frente a TV, ela viu centenas de filmes, documentários e reportagens falando dos horrores vividos naquele continente, e a consciência dela pesou. Coitadinha. Para aliviar esse problema emocional, envia uma soma qualquer em verba, e acha que solucionou o problema do povo africano, levanta a cabeça e continua com sua boa e luxuosa vida.
      As pessoas não se importam, aceite isso. Ninguém quer saber o que você  comeu no almoço, ou o que fez no fim de semana, ou das festas às quais você foi... As pessoas só vão se importar com sua vida, caso algo ridículo aconteça, e elas possam, por ventura, vir a rir de você. Nesse caso, elas serão toda ouvidos.
      Então pare de encher a paciência dos seres a sua volta. Se você comeu frango no almoço e achou-o divino...foda-se! Isso é problema seu e ninguém quer saber do maldito frango.
     Outro detalhe que gostaria de enfatizar é o setor religioso. Sou meio suspeito para falar por ser um dos “sem-fé”, vulgarmente conhecidos por ateus; mas, para o bom andamento do texto, irei supor que exista um ser supremo.
      Por que diabos um ser que criou todas as coisas, o mais poderoso do universo e talvez de mais além, e dizem ser perfeito, ia se importar se você acha ou não que ele existe? Se ele é poderoso a esse patamar, ele está pouco se fodendo para o que você acha dele; se ele quisesse que você soubesse que ele existe, ele diria isso pessoalmente para você... a ultima coisa que ele faria, seria mandar o próprio filho para que nós, humanos sádicos, pudéssemos maltratá-lo e pregá-lo numa cruz, e depois darmos risadinhas sarcásticas  daquele filhinho de deus e voltarmos ao nosso cotidiano mais descontraídos e sem remorso. Ele é deus! Se ele tudo pode e quisesse acabar com os problemas do mundo, ele simplesmente alteraria as mentes das pessoas tidas como “más”, e de um segundo para o outro todas elas seriam bondosas e pacificas. Se ele não fez isso, é por que provavelmente está se divertindo com todo esse caos.
      Deus não vai se importar com você, a menos que você se importe com você mesmo. Então pare de rezar e vá ler a porcaria de um livro. A chance de Deus te fazer “subir na vida” é oitenta vezes maior se, no tempo que você passa enchendo o saco dele pedindo coisas, você estivesse estudando Matemática, então crie vergonha na cara e vá aprender.
      O terceiro fator que prova a sua insignificância é simplesmente um fator numérico. Quando há dinheiro demais no mercado, a moeda inflaciona, e uma nota de cinco reais perde o valor. É uma regra de mercado, muito dinheiro, pouco valor, pouco dinheiro, muito valor.
      O mesmo acontece com pessoas. Se numa tribo indígena houver oitenta índios, todos eles se conhecem, todos eles são como uma só família, se um morrer, todos sentirão falta; mas numa cidade com 6 milhões de habitantes, cada cidadão é um nada em meio a muitos nadas.
      Não importa o ângulo que você olhe, você é apenas um paulistano em meio a grande São Paulo, é apenas mais um brasileiro em meio a 196 milhões de brasileiros, é apenas mais um ser humano em meio a 7.5 bilhões de seres humanos, vive em apenas um planeta em meio a 300 mil planetas em toda a Via Láctea, vive em apenas uma galáxia em meio a 800 galáxias que já tiveram sua existência comprovada, sendo que esse número pode ser duas ou três vezes maior. Em toda essa dimensão e amplitude, você se orgulha dos seus 1,75 de altura?
      Amigo, aceite, você é um nada.
      Não importa se você é um imperador intercontinental ou um chefe de família, todo o seu poder se resume a no máximo algumas milhares de pessoas. Saindo 50 quilômetros da atmosfera da terra, você já não é mais nada, perdendo até seu peso atômico.
      É por esses três fatores, o social, o religioso e o numérico, que afirmo com toda a certeza que em nenhum ângulo que você olhe, será alguma coisa. Então arranque essa porcaria de orgulho que tem e seja mais humilde. Seja inteligente o suficiente para parar de tentar ser melhor que os outros, e começar a aproveitar a vida como ela deve ser aproveitada. Por mais que existam centenas de pessoas “de fé” que afirmam existir vida após a morte, reencarnações e coisas parecidas, a única certeza que você pode ter, é de que esta vida que está vivendo agora EXISTE. Não estou dizendo que outras vidas além dessa não existam, mas que a única que você tem certeza que possui é essa, e se souber olhar pelo ângulo certo, verá que a vida é bela. Então pare de pensar no que vai lhe acontecer quando seu corpo estiver sendo consumido por vermes; ou em conseguir poder, seja ele político, social ou econômico, sobre as outras pessoas. Pare de encher o saco dos outros a sua volta com o maldito frango que você comeu no almoço, e comece a aproveitar a vida como ela deve ser aproveitada, não viva em função de um deus, em função de pessoas que ilusoriamente você acha que dependem de você ou em função daquilo que os outros acham de você.
      Viva para sí mesmo.
      Carpe Diem.



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