Os Louros das vitórias, os medos do povo e a possibilidade de mais

Por Antonio Fernandes

A maioria esmagadora dos Deputados diziam ser a favor da PEC 37. Queriam passa-la, e o motivo pra isso todos sabem: Nunca houve um Congresso na nossa história que fosse tão sujo e corrupto. O PT alcançou o poder com excelentes políticos em 2002, mas todos os melhores abandonaram o partido ao longo desses 11 anos. O PMDB está sempre a lamber o próprio saco, e as gestões Tucanas são neo-liberais demais. Sempre mais cheias de obras que de avanços. Os partidos de escanteio se vendem em esquemas mensaleiros pra quem pagar mais. No Brasil atual, conta-se os bons políticos numa mão. E claro que retirar poderes do Ministério Público interessava a todos eles, de maneira uníssona.

Então veio a revolução, o manifesto, a revolta. E o povo saiu as ruas "não só por 20 centavos", mas por todas as suas desilusões, acumuladas desde que a constituição trágica de 88, à qual não democratizou um país que a muito queria ser democratizado. E nossas bandeiras eram várias, mas um dos maiores sentimentos, dos mais fortes sentimentos, das nossas maiores mazelas, era a luta contra a corrupção. E a PEC 37 era, na prática, a mais óbvia proposta que deveria ser barrada.

E com clamor eu lhes digo que, hoje, a maior parte dos deputados se dizem contra a PEC 37. Não porque se tornaram bonzinhos, mas porque é do interesse deles se manter no poder. E a única coisa que políticos temem é o povo nas ruas.

Mas nossos louros ainda vão muito além disso. Fazendo uma reconstrução histórica das nossas lutas, da União aos estados membros, todos os poderes executivos correram rápido atrás de baixar as passagens. Mesmo os parcos 5 centavos em Belo Horizonte foram uma vitória, considerando que as famílias "oligárquicas" detentoras das licitações de ônibus são, em conhecimento geral, uma das maiores forças políticas corrompedoras da nossa capital. Todos sabem que é esse o motivo do nosso metrô nunca ter saído. E mesmo assim fizemos Lacerda recuar.

Para mais, o Congresso Nacional, com intuito de apaziguar relações com as manifestações, elaborou uma agenda positiva para as próximas semanas, onde só irão a votação questões ligadas a saúde, segurança e educação. As três grandes pautas que revoltam a nação brasileira, já que pagam o imposto mais caro do mundo, e na prática tem que comprar todos os serviços no setor privado: Pagar por segurança, pagar por educação e pagar por saúde. E lá se foi o Congresso, tentar manter suas bases e fazer seu possível para nos deixar bem. Uma semana de votações claras e limpas.

Lembra-se da "Lei Ficha Limpa"? Que tão calorosamente assinamos petição para passa-la, e conseguimos passa-la? A mesma turma da Ficha Limpa está à elaborar agora uma lei que altera as regras das campanhas eleitorais. Pessoas jurídicas serão proibidas de fazer doações aos candidatos, além de outras medidas, visando coibir o "vinculo eterno" que surge dos patrocinadores para os candidatos. Além disso, haverá uma maior importância da sigla, da legenda, em detrimento da imagem do político em si. As eleições serão votadas em turnos, em que no primeiro se vota o partido, e no segundo o candidato. A nova proposta eleitoral promete dificultar à seu modo, as possibilidades de ingresso torto e errado na política.

A nossa presidenta, Dilma Roussef, depois de tanto aclamada, está elaborando uma reforma na legislação de improbidade e corrupção. Haverá punições mais severas para empresas acusadas de corrupção ativa ou passiva. Multas mais pesadas, sanções maiores. Também penas mais graves para os políticos pegos se corrompendo, aceitando propina, pagando propina. A reforma na legislação penal de improbidade é ainda um novo golpe duro aos nossos corruptos.

A revolta da população belo horizontina, com relação a descobrir que seus direitos, de ir e vir, haviam sido vendidos pelos nossos governantes para a FIFA, e no entorno dos estádios, não só somos proibidos de passar, como o livre mercado é afetado, já que apenas patrocinadores podem comprar e vender, e nem mesmo os vendedores ambulantes podem passar por lá. Pra piorar, dentro do espaço da FIFA nem Ministério Público nem as Delegacias nem ninguém tem poder de investigar. O Espaço FIFA é um Estado de Exceção. E essa revolta colossal foi demonstrada com a mais pura desobediência civil, com o povo de Belo Horizonte marchando duas vezes até lá. Fazendo questão de enfrenta-los duas vezes, para mostrar descontentamento quanto a essa má fé dos nossos governantes. A resposta à isso foi que, de segunda para sábado, as pressões do Ministério Público, da população e dos Delegados foi tão impressionante, que o Espaço FIFA do entorno do Mineirão recuou 500 metros. Ainda assim, o Sábado foi um dia de caos.

Esses todos são nossos louros, até o momento. Nossas vitórias, conquistadas duramente com o suor das marchas. Com os gritos e protestos. Com os enfrentamentos à polícia, sejam respondendo a balas de borracha com flores ou com pedras. Seja a caminho do Mineirão ou da Avenida Paulista. De cima do teto do Congresso Nacional. Nossa ira foi ouvida, e vem sendo retumbada nos quatro cantos da política. Todos que ocupam hoje cargos de poder estão apavorados. As eleições estão todas postas à perder. O clima de medo se instaurou desde o pequeno prefeito até o presidente do Senado, o senhor mensaleiro Renan Calheiros.

A mamata acabou.

E o pavor deles, e dos empresários que lucram com eles, é tanto, que vivemos uma guerra para não sermos dissolvidos desde o primeiro instante. A primeira dissolução foi tentada com balas de borracha e gás, mas isso apenas despertou a ira brasileira e levou um milhão às ruas. A segunda dissolução foi uma tentativa de descrença, infiltrando vândalos, tanto dos "grupos de marreta", profissionais especializados em causar confusão, contratados geralmente tanto pelos empresários quanto pelos sindicatos, para erradicar ou pressionar por greves, quanto os infiltrados policiais, colocados pelo Estado para justificar a agressão da polícia sobre os manifestantes. Com o caos instaurado, jogava-se a merda no ventilador da mídia, e espalhava a notícia de que sair as ruas era perigoso. Não funcionou, mais pessoas saíram as ruas. A última tentativa de derrocada, e até agora, a que creio eu, mais surtiu efeitos, foi a propagação pelas redes sociais da possibilidade de "golpe de Estado", "golpe militar", "golpe petista". Foram jogadas ao vento inúmeras teorias de conspiração, para derrubar jovens inteligentes e inflados de informações e senso crítico, com as informações erradas e má indução ao senso crítico. Além das teorias de conspiração, a luta do partidarismo, apartidarismo e antipartidarismo dividiu os integrantes do movimento, fazendo a maioria dos simpatizantes ao PT deixarem as ruas, já que toda a revolução interessa menos, acima de tudo, ao próprio PT, e dá largas margens a oposição.

Desse modo o Estado e a iniciativa privada vem derrocando a revolução. O gigante vai sendo enfraquecido, o povo, com medo, deixa de sair as ruas. As pessoas mais uma vez começam a crer que os policiais tem razão em agredir, em atirar. Confrontos são esperados para quarta feira, no jogo do Brasil, e o que se instaura é um clima de medo e apreensão.
Por duas vezes os manifestantes se adaptaram para sobreviver. Por duas vezes o manifesto continuou, e os louros vieram, e as vitórias vieram. Mas temo que finalmente estamos sendo derrotados, por aquilo que havíamos afogado para nos unir: nossas divergências. Nossas contradições. Temo que os dias de manifesto estejam chegando ao fim. Ou não.
Que dizer? O único modo de mudar isso parte de você, de mim, de nós. Ficar na rua é nossa maior arma. Os vândalos, os conspiradores ou tudo mais não importa. Cada um que está na rua é um novo suspiro, uma nova esticada. Cada um que desiste é mais uma morte à causa, é um novo sentimento de fraqueza e desespero.

Nós ganhamos muito até agora. E podemos ganhar mais. Tudo depende de você.
Passe esse texto a frente. Passe a ideia a frente. Dê mais um passo a frente.

Vem pra rua, vem!


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