Porque Vir Pra Rua e suposições realistas de onde podem levar nossos protestos

Por Antonio Fernandes

Marchei segunda feira em Belo Horizonte. Saí de casa ao meio dia, peguei o metrô e ironicamente encontrei dois policiais também indo pra manifestação, desci na estação central e encontrei uma amiga. Juntos, fomos até a praça sete.
A primeira impressão que se tem é de diversidade. São estudantes e universitários, mas de todo tipo. Alunos do Bernoulli e do Colégio São Paulo, do Estadual Central. UFMG, PUC e Uni-BH. Além desses há vários gêneros esparsos tais quais punks e alguns garotos vestidos com máscaras sabe-se lá porque. Apesar disso, esses gêneros mais "hostis" somem de vista logo que a massa engrossa. Ah! Não me deixe esquecer. Há muitos adultos, algumas crianças e nossa forte terceira idade!

E os brados! Os gritos! Os cartazes! É maravilhoso ver que nossa nação, nosso povo, tem um senso de humor incrível. e por todo lado vê-se que há cartazes com palavras de ordem, sim, mas a maioria deles procura ironizar. Sair às ruas no Brasil é uma grande manifestação de piadas. "2,80 é open bar?", "Odeio bala de borracha, joga um Halls!", "Me chama de Copa e investe em mim!", "Seu gás de recalque bate no meu vinagre e volta!", só pra exemplificar.

E a marcha é um passeio. É importante levar água, comida, passar protetor solar e usar óculos de sol. A caminhada é lenta, realmente como um passeio. há sempre regiões onde as pessoas não estão muito concentradas e é fácil caminhar tranquilo. Quem quer um pouco de emoção, pode procurar os núcleos de onde surgem as canções, pular e vibrar, gritando "Vem! Vem! Vem pra rua vem!" "Ô motorista! Ô trocador! Me diz ai se seu salário aumentou!" "Um dois três, quatro cinco mil! Ou para a roubalheira ou paramos o Brasil!" "Sem violência!" "Sem vandalismo!" isso só pra citar as mais!

Essa é a cara real das manifestações. Não vemos isso na TV e nos jornais porque isso não vende. Mas acredite ou não, é isso que brasileiros vem fazendo todos os dias. Passeios coletivos, gestos de cidadania, e é possível ver tantos! Um obreiro do BRT distribuiu seu galão de água para manifestantes que haviam esquecido suas garrafas em casa. As pessoas nos ônibus acenam e nós ovacionamos! Ali na frente! Há pessoas tirando fotos com um policial da tropa de choque, que sorri. os manifestantes dão flores aos policiais, enquanto bradam "Ei, soldado, vem pro nosso lado!"

Mas vandalismos e agressividades? Os tempos da ditadura acabaram. Os excessos de São Paulo, ordenados pelo governador e pelo prefeito, são impraticáveis a essa altura. A agressão desmedida à manifestantes pacíficos é impossível. Há garotos exaltados e revoltados lá, dispostos a confusão. Mas mesmo nós, manifestantes de bem, gritamos contra estes palavras de ordem, dizendo-lhes para não depredar, não enfrentar, não criar caos. E eles escutam e marcham tranquilos, com claro, algumas exceções como o fim da passeata do Rio de Janeiro, que incentivados pela tomada do Congresso Nacional, em Brasília, decidiram que era sua vez de tomar a ALERJ  e não mediram esforços pra isso, deixando manifestantes e policiais feridos e o prédio depredado. Mas garanto a você que numa multidão de 100 mil, são menos de 500 dispostos a confusão, e somos nós, estando lá pela causa certa, que prevaleceremos.

Mas que causa é essa?

Muitos bradam que precisamos de um líder. Outros bradam que é preciso foco. Qual foco? Se não são mais vinte centavos, então pelo quê? A Copa? Mas fazer o que pela Copa? Pela corrupção? Mas o que fazer contra a corrupção? PEC? Ficha limpa? Melhora na educação? Saúde? Segurança? maior federalismo? aborto? maconha? impeachment? dissolução do Congresso?
E que lideranças podemos ter, se estamos assistindo às lideranças dos anos de Collor e caras pintadas sendo condenadas no processo do Mensalão?

E ai há o perigo. O medo de todo o manifesto não ser por nada. Se não tem algo definido que o governo possa fazer, então o que ele fará? Eu não tenho certeza do futuro, mas com o bocado que sei, posso tentar prever.
 No Senado já estará sendo votado, nos próximos dias, uma redução das taxas federais sobre o transporte público. Os estados federados também, cada um a seu tom, fazem o possível para reduzir seus próprios impostos.
Abaixar astarifas do transporte público é a primeira fase, e alguns pessimistas dizem que então, o protesto morrerá aí. Não acreditam nos manifestantes. Mas quando perguntados, os manifestantes dizem que, se o imposto baixar, o manifesto vai aumentar. Ficarão exaltados, comprarão a primeira vitória e marcharão pra cima do governo, em busca de mais!

E mais o que? Bom, o brado do povo é claro e difuso. "Estamos cansados!" - dizem eles. Cansados de que? "De tudo!" E daí, que mais o que se pode fazer?
Novamente fazendo previsões, há medidas rápidas e práticas possíveis de serem tomadas. Essa segunda fase sim, é mais capaz de amainar a população. O veto das PEC 33 e 37, um final condenatório no mensalão, com prisões em rede nacional.

Essa segunda faze é capaz de amainar as ruas, ou não. As pessoas podem decidir que é suficiente e voltar pras suas casas, ou gritar mais alto, vendo que conquistam vitórias com seus gritos, e lutar ainda mais.

A terceira fase será, de todas, a mais real e delicada para o governo. Porque? Porque terão de ser medidas realmente efetivas. Medidas de verdade. Aqueles cortes que doem.

 Reforma tributária, priorizando os estados federados em detrimento da tão unificada "União". Menos verba pra Brasília, significa que mais dinheiro fica no estado, onde pode ser fiscalizado pelos jornais locais e pela população, que agora acordada, será capaz de se unir mudar as próprias regras do jogo sempre que preciso, sem precisar apelar pra presidente da república ou senador. Menos mamata pros políticos, menos espaço pra empresários, ruralistas e corporações influenciarem diretamente, de cima pra baixo, o poder no Brasil. A reforma tributária de maneira federada tem capacidade de dar mais poder aos políticos estaduais, dando-lhes chance, com bastante verba e opções, de investir massivamente em todos os grandes pedidos da nação, que são os direitos básicos, à saúde, educação, transporte coletivo e segurança. Essa terceira fase abarca outra medida delicada, que seria uma reforma na "Lei da COPA", cerceando os direitos "infinitos" que foram dados a FIFA, e limitando os estragos econômicos causados por essa mamata no país do futebol.

A terceira fase dói. Mas nunca foi fácil vencer o chefão do video-game.

E se nossos representantes não derem o braço a torcer? E se tentarem esperar para conter os manifestantes pelo próprio cansaço?

Digo-lhes que por hora, é impossível ceder. As faculdades estão entrando de férias, e a cada uma que encerra aulas são mais cinco mil manifestantes às ruas. A medida que as manifestações crescem, tornam-se mais seguras, e passam a ser atrativas também para pessoas mais velhas, para crianças, para um ou outro adolescente mais acanhado, que por ventura tivesse medo de sair de casa. Com a mídia diversificada, as informações boca a boca, e os brados convocando o povo a vir as ruas, faz sua parte, e cedo ou tarde a população trabalhadora também se unirá. Já tramitam parar a nação numa nova greve geral, ação que não acontece em solo tupiniquim desde 1917. Em meados do dia 15 de julho, os Ensinos Médios e Fundamentais também entram de férias e se unirão em peso ao movimento.

Não. Duvido que essa onda de protestos seja vencida pelo tempo e pela preguiça. Talvez ela diminua em agosto. Talvez. Ou talvez atravesse o segundo semestre de 2013 com as chuvas de verão, despencando nos políticos e nos interesseiros e abutres que voam sob esse país. Vamos atormentar a "presidenta" até no peru de natal.

É uma incerteza. Tudo nesse movimento é uma incerteza. A única certeza é que estamos todos unidos, todos decididos, e se tudo correr bem, a Primavera Brasileira, o movimento Vem pra Rua, deixará um marco na história brasileira. Difícil de apagar e bonito.
Será uma mudança de verdade.

O dia em que o povo saiu as ruas para mudar a história de pessimismo do país.

E você? Vai ficar fora dessa história?


Comentários

  1. Parabens...tenho certeza q tem uma mãe orgulhosa do homem q ela gerou, um homem sim, de caráter e honesto com auto crítica e discernimento para esplanar com tanta coerência o momentos q estamos todos vivendo e engajados, parabens mais uma vez, é de pessoas assim q o Brasil precisa...Obrigado.

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