À Vigésima Primavera

Por Antonio Fernandes

À vigésima primavera me vou.
Saído da paz e da serenidade
dos meus anos de criança tola, inocente e criadora,
passado pelas mais violentas tempestades,
as cruelíssimas brigas e amargas separações,
do barco que não tinha nenhum caminho,
do poço que estive quebrado, despedaçado,
não como alguém que fosse só mau,
mas aleijado, querendo ser, sonhando em ser!
Desesperadamente sonhando em ser!
E me fiz! Fiz de mim o que quis.
Nem nos mais puros e doces sonhos sonhei ser o que sou hoje.
E sou o que?

Sou o reflexo das mulheres que nesses dez anos amei.
Amei-as de todo o coração, ainda que algumas não acreditem nisso.
E não sabem elas o quanto me mudaram, e vou lembra-las
recorda-las, por todos os anos vindouros,
serão elas histórias que ouvirão os meus netos.
Obrigado ao amor, por me mostrar os caminhos!

Sou o reflexo dos irmãos!
Os que beberam comigo, riram comigo, estiveram comigo,
que trocaram farpas e ferroadas em palavras,
e em meio a discussão fizeram
me fizeram reconsiderar! o que havia para reconsiderar
me fizeram rever o que pensava que fosse e achei que fosse e não era
Eles, que são meus irmãos,
gravaram-se no tutano dos meus ossos, e quero que
que quando o tutano dos meus ossos se desfizer
aqui eles ainda estejam gravados.
Obrigado aos amigos, por dividir seu ópio comigo.

E ao pai e a mãe,
um o exemplo inato, soberbo e puro
da bondade, do correto, do assertivo
do bem feito e bem executado,
que trabalho eu tanto em ser igual
E a outra doce, banhada em sentimentos
Que me educa a não perder tempo demais
Polindo e enxugando os devaneios
mas que mostra que mais importante é fazer.
Mais importante é que seja feito.
E sou eu assim, a astúcia mental de um
a prática robusta da outra.
O promotor e o prático.
Tornando as boas causas reais, impossivelmente reais.
Obrigado aos meus pais, por mais vinte verões.

E onde estive? Dancei
valsas de máscara em bailes debutantes
Fumei cigarros, Marias Joanas e Narguilé
O poker da sexta à noite com os irmãos.
Olhares de mulheres que amei
e nunca nem sequer beijei.

Comecei dita década na Europa
vi meu grande avô gritar em alemão,
com uma funcionária piegas do aeroporto de Frankfurt
Molhei minhas calças inocentes brincando na neve
Lembro-me até hoje da estação de trens, de Lisboa.
Da casa da tia Fátima, na Áustria,
Dos cheiros, comidas, do gosto da Europa.
E terminei minha década lá.
Com meu primo Gabriel,
que é tão vívido que não poderia deixar meus dias melhores em Cascais!
E Paris, e Londres! Barcelona e à Áustria!
Buenos Aires com minha mãe,
onde fui enfeitiçado pela magia da arte do lugar.
Poderia muito bem ter nascido argentino!
E teria sido tremendamente feliz!
Mas não há felicidade maior que ser mineiro.
que comer do queijo mineiro, e sentir as rodas do avião
rabiscarem o chão do Tancredo Neves,
Felicidade maior que comer o 'Mixto' da Maria em Caratinga!
na casa da minha avó! Sendo infernizado pelos meus primos!
Pela Carla, que me faz odiá-la e me faz adora-la.
Pelo Léo, que me é outro magnífico exemplo de inteligência!
E a Ana Clara que reluz a paz. E força. Muita força.
São os três tais frutos da minha geração.
E me fizeram odiá-los e ama-los em dez anos,
pode ter certeza!
Mas metade de mim, é mineiro.
Só que metade de mim, é paulista,
E ainda tão exemplo de brilhantismo mental
É o João, que me faz querer ser mais, fazer mais,
e a Raíssa, que ainda que não nos falemos a muito
tenho gigantesco orgulho, e não me falta admiração.
Obrigado aos melhores primos do mundo!
Com quem cresci, com quem cresci!
Pelos anos e pela maturidade!
E que escrevam também no tutano dos meus ossos,
quão importantes me são. Esses diabos.
E por fim a cereja,
Meu irmão é o maior amigo e irmão.
É um orgulho de liberdade, flutuando sob seu 'longboard'
inteligente, sagaz, livre, livre, livre!
São asas tão grandes que as vezes me fazem inveja-lo.
Como eu, um híbrido das características dos meus pais.
Inteligente e prático.
E são poucos que conheço,
que sabem viver bem como ele.
Que sabem ser felizes e livres como ele.

E foram-se dez anos!
Não sou mais 'teen', já não vivo a loucura conturbada dos hormônios da natureza.
Passei por terrenos acidentados,
mas não podia me imaginar mais vivo.
Não podia me imaginar mais sóbrio.
De dentro dos muros da faculdade de direito,
devorando todo o conhecimento,
que sonhei por tantos anos em devorar.
Posso gastar cada grama da minha vontade
cada pedaço do meu ser em fazer o que mais amo.
Aprender.
E são tantos que me ajudam!
Todos vocês, seus bastardos!
Que fazem da minha vida o que ela é.
Que bebem comigo.
Que riem comigo.
Que choram, que beijam, que aguardam e viajam e almejam e fazem a vida valer a pena
cada pedaço do que ela é.
Vocês me dão vida!
E pelos próximos dez anos mais vida virá.
Novas viagens, novas piadas, novos goles
E não sei quem amarei, que amigos farei, que loucuras
que loucuras farei.
Mas com os que já estão comigo,
com o homem que me tornei ao lado dos que já estão comigo
Sou forte.
Sinto-me forte.
Essa força que me dão é estrondosa!
E não há pedras, não há abismos que nos parem.
Agora, neste momento, à beira da vigésima primavera,
Tenho todos os sonhos do mundo!
E nada, absolutamente nada há de me parecer impossível,
com meu otimismo que é tão expansivo que irrita alguns,
Inclusive a Jessica, mas ela há de entender.
Que sendo assim eu arrasto a todos que posso
e vamos juntos, construindo uma teia de possibilidades,
mostrando a todos do que são capazes, mostrando a mim mesmo
do que sou capaz
E por todas as estradas, por todos os lugares,
por cada página, brejas e beijos
passaremos.
Porque nós,
somos um.

Amo vocês.




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