Listas, estatísticas e a Milton Campos

Por Antonio Fernandes

Tudo são discursos. Vai doer mais em alguns que em outros, mas a verdade é que a verdade não existe. Desde que estudei estatística na matemática básica estou sempre com um pé atrás quando alguém me fala em porcentagens, e não é pra menos: a maioria das "porcentagens", dos censos, das listas diz exatamente aquilo que quem a faz quer dizer. São tendenciosas até os ossos. Esse tipo de pensamento, essa maneira de estudar e pensar é típica dos ingleses, em seu chamado empirismo, e estão sempre a comprovar as hipóteses que tem através de números. Ela não é, de fato, de toda mal, visto que os próprios ingleses são sempre fiéis a dedução e não a indução. Isto é: Analisam os números e chegam a uma conclusão, e não tem uma conclusão e a partir daí tentam buscar números que a sustentem.

O problema nisso tudo torna-se crítico quando, numa situação capitalista, os meios que divulgam tais listas estão diretamente relacionados aos meios econômicos e políticos que tem interesse nelas. Numa corrida presidencial por exemplo, os "52% de aprovação da Dilma Roussef" na Carta Capital são imediatamente rebatidos pelos "31% de aprovação" que ela tem na Veja. Podemos perceber que aquele que nos fala quer desesperadamente nos convencer de que ela é "boa ou má", e a partir disso fazem seu senso se encaixar à sua vontade, e não o contrário.

"Como fazer então?" A melhor maneira de se aproximar da verdade penso eu, não podendo confiar plenamente nos dados da mídia tradicional, seria a mistura do método francês, de dedução teórica, onde deduz-se a realidade mais provável através de uma análise geral dos componentes e influências que aquilo que se estuda deve ter, com um embasamento teórico crítico, expoente na Escola de Frankfurt, em que devemos lembrar de não encarar nada como "verdade universal" nem nos prender a comodismos antigos. Antes disso, devemos buscar questionar esses comodismos e ver como eles são formados, que intenções eles tem e a quem, econômica e politicamente falando, eles interessam.

Dito tudo isso, a Faculdade Milton Campos de direito teve, no último ano, a terceira colocação no Ranking da "Folha de São Paulo". Dum ano pro outro ela despencou 116 posições, e foi classificada no 119 lugar. Como se deu tudo isso? É de se questionar, até com bastante ironia, como uma faculdade que basicamente não mudou nessas quatro estações, tendo ainda os mesmos professores, a mesma estrutura, a mesma reitoria, duma hora pra outra tenha saído da posição de melhor de Minas Gerais, sendo classificada inclusive como melhor que a UFMG, para pior que algumas faculdades sem tanta tradição jurídica. ( talvez as 116 posições perdidas tenham sido causadas pela demissão do professor Jésus, ex professor de latim e lógica formal, que tinha mais de 20 anos de casa e causou uma revolta dos alunos contra a reitoria, quem sabe?)

Qual quadro se nos apresenta? Bom, temos hoje em São Paulo grupos econômicos que tem comprado sistematicamente universidades e expandido-as, tornando-as cada vez mais massivas, em intuito exploratório, tentando agregar o máximo de estudantes possível, principalmente através dos programas de financiamento FIES e Pró-Uni, que tem dado oportunidade de pessoas de baixa renda de estudar em seu primeiro curso superior. Nesse quadro, temos ainda bem comentado um tal grupo americano, atuante em São Paulo, que tem tido interesses na faculdade Milton Campos. Não é determinante, mas é de se imaginar que haja interesses, não só deste como de outros, em sabotar a visibilidade não só dessa faculdade, mas também de outras que até agora se recusaram a ser vendidas, e se mantém na posse de seus atuais donos. O poder aquisitivo desses grupos de compra é tamanho suficiente para gerar influências até mesmo no MEC, que dirá de jornais de mídia tradicional, que não só eu mas outros viram como são tendenciosos nas manifestações de Junho, quando a Folha, ao ter num primeiro momento apoiado seus fotógrafos agredidos (e não os manifestantes) viu uma explosão de manifestos que culminou nesse apoio, e logo tratou de progressivamente voltar a deslegitimar, aos poucos dando mais visibilidade midiática ao vandalismo que ao povo nas ruas, movimento massivo dela como de outros que culminou em afogar a revolta.

Não, não confio na Folha, como nenhuma outra dessas mídias é confiável. Dito isso podemos jogar o ranking no lixo e nos atentar a questões mais inteligíveis e menos simplistas. A conversa que entrarei agora, já adianto, não é finalista nem almeja ser. Não sou professor, nem observo a atuação das faculdades a muito tempo, tratarei apenas das impressões que tenho a respeito do tema. Nesse exercício tratarei de analisar três faculdades belo horizontinas: UFMG, Milton Campos e PUC. A primeira e a última tem clara tradição filosófica, focada em estudos e professores acadêmicos, enquanto a do meio sempre teve uma cultura formalista, voltada a formar bons profissionais de mercado. Apenas ao ver isso já nos apresenta um problema colossal: é difícil comparar coelhos com cachorros. Quer dizer, apesar de serem ambos cursos de direito, eles tem objetivos diferentes e não é que não possam ser comparados mas é difícil se-lo. Os professores da UFMG são grandes expoentes intelectuais, enquanto a Milton Campos está permeada por excelentes advogados. A PUC tem, como a UFMG, grandes expoentes intelectuais, e dedica-se como ela a produção acadêmica e aos estudos. Lembre-se porém, que nenhuma dessas afirmações é uma verdade absoluta: Haverão bons advogados na UFMG bem como acadêmicos na Milton Campos, mas enquanto uma atrai pensadores, a outra prefere contratar juristas, e de maneira geral tenderão as suas tendências.

Desconheço as qualidades das outras faculdades especialistas, sei que, no seu ensino mais prático que filosófico, a Milton Campos tem tido bons resultados de seus ex-alunos em concursos e nas provas da OAB. São, de maneira complexa, vários os advogados destacados formados em qualquer uma delas, já que o bom exercício da profissão parece estar mais bem acompanhado do aluno que se esforça que apenas, de maneira simplista, a esta ou aquela instituição. Os livros adotados são de certa forma universais, e apesar dos alunos da UFMG serem excelentes em repetir o conteúdo fútil do ensino médio(medieval), isso não significa que necessariamente se destacarão no exercício de uma profissão prática, e mesmo nas provas, a incidência de tanto alunos da UFMG, como da Milton Campos, como também de outras várias faculdades passando nos concursos sem a predominância de ninguém nos demonstra que essa vantagem inicial nem sempre culmina nos mesmos formandos excelentes.

A conclusão que chego, que longe de uma verdade, é um discurso (risos), é que por fim das quantas, rankings não interessam a quem faz as coisas direito(não interessam pra ninguém na verdade), faculdades federais não estão mais sozinhas no mundo (excelência pública dos ricos), e a Milton Campos não é a melhor, nem pior, mas é boa naquilo que faz.



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