Saias curtas, Liberdade e Feminismo

Por Antonio Fernandes


Vejo gente defendendo as coisas certas do jeito errado.

Sempre. Não creio que seja condenável, o que se vê na verdade é uma fatalidade entre uma grande vontade de causar boas mudanças aliada a pouco senso crítico. De fato é louvável que haja boas intenções, mas como já diziam os velhos, "de boas intenções morreu Hitler." O que quero dizer é que não basta querer criar um mundo mais livre, igual e fraterno, quando suas posições e atitudes culminam causando mais desigualdade, menos liberdade e piorem os conflitos. É necessário ponderar, é necessário questionar, e apesar de em algumas pessoas esse exercício doer, há boas almas distribuindo boas perguntas por ai.(infelizmente, para nossa fatalidade, há ainda mais almas dando respostas)

Sempre que vejo uma feminista pelada me bate uma tristeza. Contaram pra elas que liberdade é "fazer o que quiser" e passando por cima do direito dos outros à sua própria moralidade (e moralistas, e religiosos, e tradicionalistas) elas se despem e acham que todos tem que aceitar. Além de ser um juízo de liberdade muito velho e muito fraco, dão um tiro no pé: Igualdade entre os sexos é o direito das mulheres se vestirem como der vontade? Não, não é. Você se vestir como quiser pode passar até por um discurso das suas liberdades individuais, mas não pela bandeira feminista. Tanto o é que não há diferença nenhuma em dar o mesmo direito aos homens: de ficar pelados à vontade também. E isso nem prejudica nem agracia a liberdade entre os sexos. Todo mundo peladão só causaria uma mudança no mundo: um mundo de pelados. (que pro nosso país tropical, meu Deus, seria louvável)

Feminismo é a igualdade material entre os sexos. São as mulheres recebendo salários justos que não as discriminem, não sendo agredidas pelos maridos. É haver tantas mulheres quanto homens no Congresso Nacional. É ter uma presidenta da república de qualquer sexo e isso ser indiferente. Tanto nas grandes questões como nas pequenas, existindo uma cordialidade entre ambos no convívio social, e numa existência em que os machões de plantão não assoviassem, cantassem, passassem a mão, estuprassem ou espancassem as mulheres nas ruas e no dia-a-dia. Quer queira ou não, a mesma atitude que um homem tem ao constranger uma mulher no codidiano, é o mesmo machismo que, acrescido, dá ao outro o "direito" de espancar a esposa porque ela é sua propriedade. São a mesma atitude mascarada em momentos diferentes, e da mesma forma que você, garotão, acha que não há nada demais em elogiar aquele "rabo enorme da gostosa" que passa, o pai de família acha certo "corrigir" sua esposa pelas "idiotices" que ela faz. Feminismo é chegarmos num dia em que essa péssima cultura seja extirpada da sociedade. Sim, cultura, porque os homens aprendem e reproduzem essas atitudes de maneira cultural, e péssima, porque da mesma forma que beber e dirigir, ser funcionário público vagabundo e corromper-se em cargo público é cultura, são péssimas culturas e devem ser também extirpadas.

Agora, me entristece ver elas juntando a bandeira do "direito de ficar peladas" com a bandeira "feminista". Me entristece porque a primeira vai contra necessariamente a segunda. Usar roupas mais curtas ou ficar peladas só endossa o machismo cultural. Só dá outra carta pra que os homens as tratem como objetos. Que as constranjam na rua ou espanquem em casa. Porque o mesmo exercício objetual que justifica a primeira justifica a segunda. Não adianta querer ser tratada como pessoa quando necessariamente a mulher se veste sabendo que será tratada como objeto. Há uma crise de finalidades aí, e mesmo que se diga "que os homens é que devem aprender a se comportar e ser menos machistas" isso me passa tanto um mal senso ideológico como uma logística fraca. Senso ideológico porque nada acontece por acaso. Quer dizer, toda ação tem uma reação, e se as mulheres continuarem se tratando como objetos os homens continuarão a trata-las como objetos. Se tudo continuar como está, tudo continuará como está! As mulheres tem que gerar, por sua parte, uma onda geradora de mudanças, pra que aconteça alguma coisa. A conscientização masculina não vai partir do nada. Logística fraca, porque sempre tive uma máxima na minha vida que resolveu e continua resolvendo de forma prática e sintética todos os meus problemas: Eu me culpo sempre que posso. Me culpo sempre que posso porque quando a culpa é minha eu sei o que devo fazer pra resolver o problema. Eu sei que nem todas as culpas são minhas, mas me culpar me salva de uma situação muito mais constrangedora e muito pior que é a de culpar o outro. Se o outro é culpado, tudo bem, ele é culpado. Ok. Só isso. Ele é o responsável pelo problema, mas a solução fica ao cargo dele, e não minha. E as atitudes dele eu não posso resolver. Você não pode me fazer fazer, quem faço sou eu. Então se as mulheres colocam a culpa do machismo nos homens e os homens colocam a culpa do machismo nas mulheres, nenhum deles chegará a lugar nenhum e o machismo continuará existindo. (Já fazendo uma réplica que sei que será necessária, eu, autor, particularmente doso o máximo possível minhas atitudes no cotidiano num sentido feminista, e faço minha parte como homem. Ao escrever esse texto e mostrar a contradição do erro das mulheres não quero "faze-las fazer algo", não. Quero antes tentar levantar um novo ponto de vista, uma dúvida, e faze-las repensar o feminismo e buscar novos jeitos de resolver o problema. Levantar a dúvida para mudar a situação, socialmente falando, isso eu posso fazer)

"Ah! Mas, as mulheres tem o direito individual de ficar bonitas e se produzir!" Realmente existe um padrão moral de beleza (que pra quem acaba de questionar a moralidade dos velhos que não quer ver ela pelada, soa até irônico) mas esse conceito de beleza também está tratando as mulheres como objetos, e as garotas-propaganda posando semi-nuas na propaganda da cervejaria, a mulher quase-pelada que lava o carrão na propaganda automotiva, a outra que posa só de calcinha e sutiã daquela marca de roupa íntima, e até aquela toda pelada da capa da revista masculina também estão reafirmando o conceito de mulheres como objeto e também estão atrapalhando uma sociedade feminista. Quando a mulher se mira nesses ícones pra reproduzir sua sexualidade, quando o padrão que ela tem de mulher ideal é a gostosona, linda, de batom vermelho, salto alto, coxas grossas, cintura fina e peito enorme, quando o ideário é assim, tudo o que ela vai reproduzir será machismo. "Qual a mulher ideal então?" Daí um juízo particular meu, (já que tudo são discursos, tudo isso é um discurso e nada em lugar nenhum é uma verdade), a mulher feminista é independente. Ela quer ser inteligente pra que possa ser livre. Ela quer se emancipar. E sim, mesmo bonita ou não, o fato da vida dessa mulher não girar em torno de homens, dos homens, para os homens (como, mesmo em sec.21, eu vejo tantas assim!) mas girar para si, por si, em si, constitui o crescimento humano máximo. Ela não precisa se constranger e não perde tempo em se produzir pros homens, mas traça os planos de vida pra que conquiste seus objetivos e se realize na vida. Sim! Alguns velhos objetivos femininos, que foram encaixotados pelo machismo, ficam ameaçados com isso. Criar filhos continua sendo um ótimo objetivo, mas num mundo pós-moderno de casamentos que não duram nem 5 anos(porque são construídos em cima de ideias velhas), talvez aquele felizes pra sempre da Disney não seja mais tão fácil. Aliás, ele fica totalmente extirpado. O que essa mulher feminista passa a querer não é mais um príncipe encantado que faça tudo por ela, já que sendo independente, ela faz por si mesma. O que essa mulher quer é um homem igualmente independente, maduro, responsável, que enlaçado de amor por ela, e tocando juntos os desejos da vida, possam crescer e se realizar! O homem que divida as contas, que a trate como igual e reconheça as diferenças de sexo que existam entre eles. Um homem que conheça seu papel e a ajude em suas fraquezas, bem como ela o ajudará em suas fraquezas. Não uma relação em que olhem um para o outro, ele de cima e ela por baixo, mas que olhem e caminhem juntos pra frente! Posso até estar errado com meu juízo de valor, mas não consigo conceber situação na vida que derrube um casal como esse.

E como citei o caso dos relacionamentos, amplio: O fato de fazer as coisas para si não significa egoísmo absoluto. Devemos sim nos atar aos outros! Devemos sim viver em sociedade! Mas fazemos isso de forma muito maior e mais madura quando somos maduros, do que quando carregamos conceitos velhos e moralidades velhas que já não servem pra nada. A vida é muito mais bela para os que são livres, livres na mente, que conhecem suas responsabilidades da mesma forma que são capazes de saber o que querem. E livres na prática, quando são capazes de colocar suas atitudes em sintonia com suas vontades e se realizar. Somos frutos do modo como agimos e da maneira que pensamos, e creio que as mulheres podem ser grandes e nobres e lúcidas! Algumas delas só precisam que alguém lhes conte isso.

E por fim, chegaremos a isso. Igualdade entre os sexos, para que haja justiça. Liberdade pra todos, pra que busquem a felicidade. E a fraternidade rondando um viver mais inteligente e mais feliz. Uma sociedade de pessoas grandes, e não crianças que rosnem e briguem.

Voilà!



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