Carta Aberta ao CAAP, e a quem quiser

Aos prezados colegas do CAAP da UFMG,

Há insatisfações que são coletivas. Temas que inclusive bons pensadores de esquerda ou direita concordam que estão erradas sob qualquer prisma. Esse é o ponto.
A política, por mais variada e complexa que possa ser através dos milênios, como democracia, sempre funcionou igual: Quando a política e o interesse de todos é maior, com raivas de posicionamento ou não, o progresso acontece. Quando há interesses superiores que conduzem a política em interesses particulares, o progresso deixa de ser o progresso de todos, para se tornar o progresso das fortunas individuais.

Creio ser nada menos que isso o que vemos no Brasil, nada menos que corporações regendo-nos de cima, e determinando governos. E não importa seu voto, não importa se é esquerda, direita, se se gira ou anda em círculos, cada político é patrocinado.

É primordialmente contra essa causa maior, essa ferida com pus remoendo nosso governo que devemos lutar.
O que nos desagrega são posições partidárias. Se devemos diminuir os impostos ou aplica-los melhor? Se vamos limitar fortunas, fazer distribuição de terras, vender a Petrobrás a iniciativa privada ou re estatiza-la tornando-a forte?

De esquerda ou direita, concordamos com certas coisas. Sendo estudantes de direito, sabemos que federalizar é melhor para o que quer que seja. Antes de conversarmos com a USP, UFRGS, UNB, precisamos conversar em Minas. Antes de falarmos com UFJF, UFLA ou que quer que seja, é preciso unidade em Belo Horizonte.

Os universitários estão primordialmente despolitizados e em descrédito com as mudanças que podem promover. Eles creem, como quiseram que cressem todos os jovens do país os últimos 20 presidentes, que são pequenos demais. É preciso agrega-los para torna-los fortes. Criar unidade, e não se faz unidade sendo radical. Os Black Blocks, gostem deles ou não, achem correto ou justificável ou não, desagregaram as manifestações de junho por serem radicais. Mesmo que se concorde com um posicionamento radical, é preciso lembrar que compulsoriamente ele excluirá um lado radical oposto, bem como todos os não radicais que acharem a atitude um exagero.

Penso que o melhor que se pode fazer é agregar. Gensis Khan unificou as tribos da Mongólia, fez eles engolirem séculos de remorso e traições, e com isso conquistou nada menos que o terceiro maior império da história. Não tenho pretensões tão grandes (risos) mas acho que se nos mirarmos em unificar, primeiro os estudantes de direito, depois os estudantes universitários, e por fim agregar as agremiações secundaristas seremos capazes de ter uma voz maior, uma força maior, uma capacidade maior de efetividade e mudança.

O mau do Brasil nos últimos 20 anos foi terem divido dicotomicamente a esquerda e direita de maneira simplista, como fazem os americanos. Pensam que só podem ser pró PT ou PSDB, e gastam-se numa luta infinita pela cadeira da presidência da República. O mau que realmente reside nesse país não é o partido da oposição, que quer na verdade a mesma coisa que você! PT e PSDB querem aos seus modos, levar dignidade as pessoas, fazer valer o artigo quinto, desburocratizar e dinamizar esse país. O problema é que nenhum deles tem poder de fato. O poder de fato está nas corporações, que o regem pelo Senado Federal, com 20 senadores PMDBistas. Na câmara dos deputados, com 79 PMDBistas. E não só eles, todos os senadores e deputados, prefeitos, governadores ou quem quer que seja que tenha patrocínio, que se articule por interesses. Interesses particulares e não públicos. Esse é o nosso maior problema.
E é preciso desarticula-los de baixo pra cima. No Brasil tendemos a olhar pra Brasilia pra tudo. Mais importante que isso é levar ao conhecimento público dos estudantes o que está acontecendo aqui, na nossa terra.

Por essas questões, considero necessário esse determinado conjunto de atos:
Construir um diálogo entre as faculdades. Não apenas para movimentos de rua, mas para montar comissões de inquérito, para promover debates e palestras, inclusive acadêmicos, a respeito dos temas que dizem respeito a Belo Horizonte.

Montar um jornal virtual e quiçá físico, e construir um quadro de responsáveis pelo jornal das múltiplas faculdades, que tragam e busquem notícias da nossa assembléia mineira, da câmara dos deputados estaduais, do prefeito e do governador. Coisas palpáveis, pra que ao mesmo tempo possamos organizar contra-medidas possíveis para contrapor os abusos, e se necessário, entrar em contato com o Ministério Público para investigar e averiguar lugares onde nós não podemos ir.

E para BH, creio que os temas sejam do conhecimento geral: Toda a reforma tributária que pudermos fazer, a nível de município e estadual. Em questão de direitos humanos, zelarmos pela proteção dos mendigos, das prostitutas e dos hippies, que andam sendo perseguidos por esse governo, numa constante higienização para a Copa do Mundo. No quesito de transporte público, pressionar, pressionar e pressionar pela construção do Metrô. Na questão de hospitais, buscar saber quais são as reais demandas, quais são os reais problemas da saúde pública em Belo Horizonte e Minas Gerais. Na educação, como estão as escolas públicas? Como podemos talvez criar maneiras de disponibilizar material e conteúdo para que qualquer um estude por conta própria?
Creio que outras milhões de questões possam ser levantadas, e a medida que descobrirmos, com nosso QG de "jornalistas do direito", quais são os problemas fundamentais, na medida em que conseguirmos espaço e novos aliados, possamos crescer nossa capacidade por fazer a diferença.

Não sendo radicais, não sendo extremistas, não sendo black blocks. Mas como já disseram outros antes de nós, "all you need is love". A desobediência civil e a peace and love deram certo nos anos 70 e podem funcionar de novo. Precisamos apenas nos organizar e consolidar nossas medidas de mudanças.

E qual o papel do CAAP nisso tudo?
A UFMG é referência como faculdade em Minas Gerais. Nós da Milton Campos nos orgulhamos de ter uma excelência em docência e ex-alunos muito bem destacados no mercado, mas as faculdades federais sempre tiveram um passo em frente quando se fala em engajamento social, politização. Creio que uma reorganização e um novo crédito dado as entidades estudantis sejam fundamentais para recriar o senso de cidadania, fundamentar a consciência social que deve tramitar em nossos conjuntos sociais. E ninguém é menos competente que o seu CAAP, para agregar e dialogar de ambos os lados, tanto à esquerda quanto a direita. Tentar se fazer ouvir nos setores mais radicais de ambos os lados. Unificar os estudantes de direito, os universitários e por fim, tentar dialogar com as agremiações secundaristas e com todos os outros movimentos sociais. Mas precisamos dar um passo de cada vez, e o primeiro passo deve ser, claro o mais difícil. Unificar esse rebanho de gatos que são os estudantes das leis, já que mais que todos os outros segmentos, nós temos consciência mais profunda da engrenagem política, do que diz superficialmente e profundamente a nossa constituição, onde estão os erros e como podemos remedia-los.

A construção se fará devagar. O manifesto que cunhei e lhes chamo para participar, confesso, está completamente esvaziado. Parte dum primeiro passo para tentar retornar as pessoas para a rua, prevendo manifestações maiores no período da Copa. Para as manifestações seguintes, seria importante ter pautas mais seguras e urbanas, como o metrô, verticalização da Pampulha ou os direitos dos segmentos excluídos de Beagá. Entre isso, entrarmos em contato com os universitários de outras instituições e convida-los também. Convence-los da importância que tem a ajuda deles na modificação efetiva de Belo Horizonte. Creio que podemos andar bastante com isso, ainda antes da Copa. É importante, no conjunto das faculdades, construir uma primeira Comissão de Inquérito para perguntar sobre as pautas as pessoas que são responsáveis por elas, dentro do governo. Do executivo, ao executivo, do legislativo ao legislativo. E quiçá, as pautas que forem, ao judiciário. Organizar a construção do jornal eletrônico e físico.

Há muito a fazer aqui, logo ao lado. Na nossa terra, na nossa Minas, na nossa BH. Há legislações de tributos para serem questionadas, podemos inclusive construir os projetos e leva-los aos que nos apoiarem na câmara tentarem tramitar. Tudo é possível, e eu sei com com ajuda conjunta, podemos fazer mais.

Meus agradecimentos aos colegas do CAAP, da UFMG. Espero que coabitem com essa opinião, e que num futuro próximo, estejamos agindo mais alto.
Saudações!


You say you'll change the constitution,
Well, you know!
We'd all love to change your head!
You tell me it's the institution,
Well, you know!
You'd better free your mind instead!
But if you go carrying pictures of Chairman Mao,
You ain't going to make it with anyone anyhow!
Don't you know it's gonna be,
All right!


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