Um Garoto de Aberdeen - #11 - Montesano

 Por Antonio Fernandes




(...)Dancing in the sun a new born in the light, say goodbye to gravity and say goodbye to death. Hello to eternity and live for every breath.
Your time will come.(...)

Seu pai chega de carro com o som no máximo tocando o forte Iron Maiden. O braço pra fora da janela segurando um cigarro e dá um sorriso pro filho.
- Senti saudades meu garoto.
Desce do carro e Kurt não diz nada. Ajuda-o a colocar as malas no carro. Sem se despedir da mãe vão embora de Aberdeen.

-Trouxe os papéis da matricula? - Kurt balança a cabeça - Muito bem, vamos amanhã te colocar numa nova escola. Você vai fazer bons amigos e vai ter uma boa vida, nada haver com esse pesadelo.
O garoto tenta sorrir, mas não dá. Sai apenas uma expressão desgastada. Não dormiu naquela noite com medo do namorado da mãe. Com medo de pesadelos, com medo do futuro. Com medo de muitas coisas.

Escutaram o fim do disco do Iron Maiden e estavam curtindo um começo de Led Zeppelin quando chegaram a Montesano. O pai morava num trailler alugado por cinco dólares o dia, isolado das outras casas uns quinhentos metros. Um córrego passava logo atrás, com algumas árvores. Lembrava-o da sua antiga casa em Aberdeen - percebeu - mas logo tirou isso da cabeça, pois fazia seu coração doer. Lembrava-lhe sua irmãnzinha, mas ela havia sido mandada para morar com a mãe. Pensavam que isso talvez fizesse a mãe tomar juízo e se cuidar.

Apenas deixam as malas no trailer e partem pra cidade. Param numa lanchonete e comem dois enormes sanduíches. O pai de Kurt conta piadas e é extremamente engraçado. Era essa personalidade forte e divertida que havia cativado sua mãe, percebeu o menino resoluto, mas não podia deixar de rir. Foram depois num parque de diversões, comeram algodão doce e desceram sete vezes na montanha-russa antes que começasse a escurecer. Voltaram pra casa ao som de Highway the Hell. Kurt limpou os pés na soleira da porta.

-Pai, me promete uma coisa?
-Qualquer coisa meu filho. - E sorri.
-Me prometa que você nunca mais vai ter uma mulher.
Donald fecha a expressão, olha pro filho analisando-o. Dá um beijo na testa e entra em casa.

Sem responder.



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