Madrugada Artística
Por Antonio Fernandes & Vivi Joslin
Ela: Sinto falta dos meus neurônios.
Ele: Pergunto ao pó, que não mais me responde.
Ela: É difícil pensar que só se encontra resposta nessas condições, ao lado do pó.
Ele: E em minha cadeira, confortável e hospitaleira, hei-me medito.
Ela: Acontece que o cenário não me inspira mais. A cadeira permanece vazia. Os lençóis bagunçados em sempre noites frias.
Ele: Fito o quadro de Bonaparte na parede emoldurado. Já serviu-me de inspiração em mil prosas. Chega.
Ela: E agora procurar onde? Outros objetos inanimados? Isso não anima em nada.
Ele: Canso-me. O copo ao qual bebia vodka pura, quente, está vazio. Jogo-o da janela. Foda-se.
Ela: Fiz isso com meus versos, olhar os destroços no chão não é assunto que acorde os neurônios perdidos.
Ele: Meus devaneios são só novos devaneios. Minhas inspirações parecem usadas, sujas. É como que um mundo inteiro ter pensado antes de mim aquilo que desejava tornar real.
Ela: Me falta realidade. Esse é o segredo. Em meio a tanta entorpecencia as novidades tornam-se falidas e despretensiosas a tudo o que desejei ser, realizar... Não me atormenta não ser original, não me aflige a falta de habilidade em usar influencia dos atemporais... Parei no tempo.
Ele: Parei na vida, e na existência. Entorpeço-me tragando tal subjetiva morte à caminhar-me para a verdadeira morte.
Ela: Me disseram mais cedo sobre acrescentar pimenta, você me disse! A morte é questão circunstancial e não estamos sob essa circunstancia. Me desespera esse período anestesiado em que me encontro... pedido de socorro em um manha nublada.
Ele: Para acrescentar pimenta é preciso flertar com ela.
Ela: Estou sempre disponível aos flertes da vida, não me fecho a eles, uma vez dito se torna lei: Sou movida a experimentos, e alguns me trouxeram até este bloqueio. Isto é, o flerte nem sempre é o resultado, só a ponta do iceberg neste nosso caso de versos e palavras soltas.
Ele: As experiências estão para a criatividade. As inovações refletem o ser da criatividade. Quebre regras e será recompensada com êxtases momentâneos que lhe levarão à arte. Há frustração a seguir. Sempre haverá. Mas navegar é preciso, viver, não é preciso. Mas vivamos navegando! Ou não vivamos. Eis a tragédia da alma dos artistas.
Ela: Eis outro dilema, a tragédia, em primórdios gregos, é uma maneira positiva de melancolia... Drama ou tragédia neste caso? Creio que para ser de fato arte é necessário dispensar toda subjetividade, transformar drama em tragédia, mas qual é o fator determinante? O que de fato diferencia a tragédia de todo esse melancólico drama, estagnado e entendiante que vi meus dias passarem no ultimo mês?
Ele: "O mundo foi criado no caos. Morrerá no caos. Em meio a isso existe ordem." Está tentando determinar o caos? Racionalizar o caos? (risos) E de risos ficarei! O caos não é racionalizável. Ele é natureza. Ele fala mais alto. Ele é mais forte. Atire-se do penhasco. Seja o que as ondas determinarem. Porque sublevação? Olhe as pessoas à volta. Tão racionais. Parecem felizes? Pois a felicidade não está na ordem. Atire-se ao caos, e seja o que a maré tornar.
Ela: Me fazendo rir e nem sei o porque! dentre tudo o que vi e ouvi deve haver um fator que difere. Não o caos e sim a maneira de transformar o drama em tragédia. Permitindo humor e coisas construtivas a partir das histórias tristes... Encontrar o tempero picante o suficiente para meus dramas, é disso que se trata? Mais tempero e sou abençoada pela genialidade criativa que os entorpecentes me tiraram? Try all the way, diria Bukowski.
Ele: Não há caminho errado. A criatividade tem todos os caminhos, e por isso é tão difícil e tantos se complicam tanto. Não lidamos bem com liberdade. Estar no mar cercado por opções é ainda mais horrível que estar no poço sem opção alguma. Falo por experiência. Há escritores trágicos, há escritores apaixonados, e há quem escreva por carreirismo. Haverá sempre todos de nós, e haverá sempre exímios em todas as artes. Alguns se tornando ricos, outros se tornando parte de uma história maior, um conjunto de humanidades. Tudo isso é caos. Tentar encontrar padrões, respostas, é como buscar números na grama crescente ou no caminhar dos astros do céu. Mesmo que hajam números, eles dizem apenas uma coisa: Caos. Caos. Caos. Não há escapatória ao caos, nem há necessariedade de escape. Apenas viva-o e siga caminhos. O drama é uma frustração humana por não encontrar tal equilíbrio. Equilíbrio utópico, matemático. Sonhadores que tentam encontrar correções e só encontram trágicas decepções. É tudo humano demais, caótico demais. Translúcido demais e toda a existência torna isso claro desde o princípio. Da vida, do universo e da humanidade. Deixe os hormônios ditarem, só eles podem.
Ela: Caos. Vamos apelar para a astrologia e dizer sobre essa nossa libriana tentativa de equilíbrio. Entendo, concordo em partes, mas tudo isso me esclarece a questão de que devo tornar criativo todo drama, para que seja trágico o suficiente... E bem, pensando bem, talvez já seja poético tudo o que foi dito em função filosófica.
Ele: A poesia está em todos os lugares. Na racionalidade perfeita de tal verso decassilábico a loucura da prosa poética. Ela é tudo, está em tudo, respira tudo. É um reflexo da alma humana.
Não se preocupe em encontrar a poesia. Tente sim encontrar a si mesma. Lá estará a poesia.
Ela: Sendo assim, não irei me preocupar em encontrar-me... Está em tudo, se sou desnorteio para que sair por aí em busca de um simbolo que me represente para carinhosamente apelidar de poético?!
Ele: Quem falou em símbolo? É encontrar você. Compreender-se. Saber de que matéria é feita, não se associar a algo fora de si, imaterial e fixo. Não há fixo. Haverá uma de você a cada dia, quiçá a cada momento. É preciso encontrar-se o tempo todo. Se capturar um momento, haverá poesia.
Ela: Por esse lado, você parece acreditar em originalidade. Se prende mesmo a esses "valores"? É subjetivo visando que cada ser criativo provém de referencias.
(...)
Ela: Sinto falta dos meus neurônios.
Ele: Pergunto ao pó, que não mais me responde.
Ela: É difícil pensar que só se encontra resposta nessas condições, ao lado do pó.
Ele: E em minha cadeira, confortável e hospitaleira, hei-me medito.
Ela: Acontece que o cenário não me inspira mais. A cadeira permanece vazia. Os lençóis bagunçados em sempre noites frias.
Ele: Fito o quadro de Bonaparte na parede emoldurado. Já serviu-me de inspiração em mil prosas. Chega.
Ela: E agora procurar onde? Outros objetos inanimados? Isso não anima em nada.
Ele: Canso-me. O copo ao qual bebia vodka pura, quente, está vazio. Jogo-o da janela. Foda-se.
Ela: Fiz isso com meus versos, olhar os destroços no chão não é assunto que acorde os neurônios perdidos.
Ele: Meus devaneios são só novos devaneios. Minhas inspirações parecem usadas, sujas. É como que um mundo inteiro ter pensado antes de mim aquilo que desejava tornar real.
Ela: Me falta realidade. Esse é o segredo. Em meio a tanta entorpecencia as novidades tornam-se falidas e despretensiosas a tudo o que desejei ser, realizar... Não me atormenta não ser original, não me aflige a falta de habilidade em usar influencia dos atemporais... Parei no tempo.
Ele: Parei na vida, e na existência. Entorpeço-me tragando tal subjetiva morte à caminhar-me para a verdadeira morte.
Ela: Me disseram mais cedo sobre acrescentar pimenta, você me disse! A morte é questão circunstancial e não estamos sob essa circunstancia. Me desespera esse período anestesiado em que me encontro... pedido de socorro em um manha nublada.
Ele: Para acrescentar pimenta é preciso flertar com ela.
Ela: Estou sempre disponível aos flertes da vida, não me fecho a eles, uma vez dito se torna lei: Sou movida a experimentos, e alguns me trouxeram até este bloqueio. Isto é, o flerte nem sempre é o resultado, só a ponta do iceberg neste nosso caso de versos e palavras soltas.
Ele: As experiências estão para a criatividade. As inovações refletem o ser da criatividade. Quebre regras e será recompensada com êxtases momentâneos que lhe levarão à arte. Há frustração a seguir. Sempre haverá. Mas navegar é preciso, viver, não é preciso. Mas vivamos navegando! Ou não vivamos. Eis a tragédia da alma dos artistas.
Ela: Eis outro dilema, a tragédia, em primórdios gregos, é uma maneira positiva de melancolia... Drama ou tragédia neste caso? Creio que para ser de fato arte é necessário dispensar toda subjetividade, transformar drama em tragédia, mas qual é o fator determinante? O que de fato diferencia a tragédia de todo esse melancólico drama, estagnado e entendiante que vi meus dias passarem no ultimo mês?
Ele: "O mundo foi criado no caos. Morrerá no caos. Em meio a isso existe ordem." Está tentando determinar o caos? Racionalizar o caos? (risos) E de risos ficarei! O caos não é racionalizável. Ele é natureza. Ele fala mais alto. Ele é mais forte. Atire-se do penhasco. Seja o que as ondas determinarem. Porque sublevação? Olhe as pessoas à volta. Tão racionais. Parecem felizes? Pois a felicidade não está na ordem. Atire-se ao caos, e seja o que a maré tornar.
Ela: Me fazendo rir e nem sei o porque! dentre tudo o que vi e ouvi deve haver um fator que difere. Não o caos e sim a maneira de transformar o drama em tragédia. Permitindo humor e coisas construtivas a partir das histórias tristes... Encontrar o tempero picante o suficiente para meus dramas, é disso que se trata? Mais tempero e sou abençoada pela genialidade criativa que os entorpecentes me tiraram? Try all the way, diria Bukowski.
Ele: Não há caminho errado. A criatividade tem todos os caminhos, e por isso é tão difícil e tantos se complicam tanto. Não lidamos bem com liberdade. Estar no mar cercado por opções é ainda mais horrível que estar no poço sem opção alguma. Falo por experiência. Há escritores trágicos, há escritores apaixonados, e há quem escreva por carreirismo. Haverá sempre todos de nós, e haverá sempre exímios em todas as artes. Alguns se tornando ricos, outros se tornando parte de uma história maior, um conjunto de humanidades. Tudo isso é caos. Tentar encontrar padrões, respostas, é como buscar números na grama crescente ou no caminhar dos astros do céu. Mesmo que hajam números, eles dizem apenas uma coisa: Caos. Caos. Caos. Não há escapatória ao caos, nem há necessariedade de escape. Apenas viva-o e siga caminhos. O drama é uma frustração humana por não encontrar tal equilíbrio. Equilíbrio utópico, matemático. Sonhadores que tentam encontrar correções e só encontram trágicas decepções. É tudo humano demais, caótico demais. Translúcido demais e toda a existência torna isso claro desde o princípio. Da vida, do universo e da humanidade. Deixe os hormônios ditarem, só eles podem.
Ela: Caos. Vamos apelar para a astrologia e dizer sobre essa nossa libriana tentativa de equilíbrio. Entendo, concordo em partes, mas tudo isso me esclarece a questão de que devo tornar criativo todo drama, para que seja trágico o suficiente... E bem, pensando bem, talvez já seja poético tudo o que foi dito em função filosófica.
Ele: A poesia está em todos os lugares. Na racionalidade perfeita de tal verso decassilábico a loucura da prosa poética. Ela é tudo, está em tudo, respira tudo. É um reflexo da alma humana.
Não se preocupe em encontrar a poesia. Tente sim encontrar a si mesma. Lá estará a poesia.
Ela: Sendo assim, não irei me preocupar em encontrar-me... Está em tudo, se sou desnorteio para que sair por aí em busca de um simbolo que me represente para carinhosamente apelidar de poético?!
Ele: Quem falou em símbolo? É encontrar você. Compreender-se. Saber de que matéria é feita, não se associar a algo fora de si, imaterial e fixo. Não há fixo. Haverá uma de você a cada dia, quiçá a cada momento. É preciso encontrar-se o tempo todo. Se capturar um momento, haverá poesia.
Ela: Por esse lado, você parece acreditar em originalidade. Se prende mesmo a esses "valores"? É subjetivo visando que cada ser criativo provém de referencias.
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