TIC TAC

Por Antonio Fernandes

Posso rabiscar palavras
mornas do calor
desta fumaça que corre
nos lábios na boca
escorre os pulmões e volta
destilada daquilo que sou
alguém careca disse que
andamos com uma bomba relógio
posta em nossos bolsos
está a explodir a qualquer
tempo que seja
tic tac do tempo
tic noc tac
Ti en Ti
que carregamos mordida da boca
do nascer molhado claro fotofóbico
com olhos de médico de mãe
de enfermeiras
até a cama mais cara
do hotel mais caro
da suíte presidencial
de um hospital branco
fechamos os olhos e
tic
tac
posso rabiscar palavras mornas
do calor
que acelera o relógio
posso beber dessa bebida
gelada morder os gelos
destruir os pirulitos
mastigar o limão
mastigar o canudo
acelera o tic tac do relógio
acelera com essa música de batida forte
que bate no rítimo do meu peito
suado molhado da chuva
de pessoas de gente
gente como a gente
tic tac do relógio
posso ver um filho nascer
escolher um filhote
de cachorro
posso odiar meu chefe
posso odiar meus pais
posso amar uma pessoa
mais que amo a mim mesmo
tic tac do relógio
posso odiar aeroportos
e amar viagens longas
longes
posso ter tudo e mais um pouco
desde que esta bomba inicia
até quando essa bomba
explode

Comentários

Postagens mais visitadas