Cold and Darkness

Por Antonio Fernandes


Cold and darkness

Ato I

Está frio
o vento sopra gelado e balança o galho das árvores
lá fora as nuvens noturnas tornam a noite, triste
e eu não sinto o frio

não sinto frio porque gelado eu também estou
meu coração de pedra é indiferente ao toque dos ventos
é indiferente a magia negra da noite
Eu Sou o Próprio Frio.

minha alma, já negra, vê antigas feridas, cicatrizes.
os cortes que outrora me sangraram, já não me sangram mais,
as dores, que outrora me afligiram, ignoro agora veemente.
Eu Sou Todo Mau.

Meu mau não é um mau infundado, nem ignorante
é o mau de alguém que se cansou de tentar ser bom
mas agora torna-se mau, e mau, pratica suas bondades

Minha dureza, carcaça de cicatrizes que escondem minha alma
esconde e protege um ser fraco, que não ama a luz, pois ela o queima.
protege um Eu que se cansou de sofrer, e hoje vive de tristes indiferenças vazias.
Eu Sou Todo Nada.

Olhando da sacada da janela, vejo pessoas que se apressam nas ruas.
Elas correm de seus problemas, correm contra o relógio,
correm contra a correnteza, os ventos e contra a vida.
Elas são tão... tristes.

Pois em tristezas o mundo está,
e ele há de viver as tristezas, até o fim dos dias
porque o mundo se cansou de viver, e assim como eu
hoje ele ama as trevas.

O doce e frio toque da Escuridão.

Ato II

Para aprender a amar o frio
um homem precisa viver as custas dele por muito e muito tempo
viver das lastimas do mundo, e aprender a ignorar suas emoções
e rir dos sarcasmos trágicos da vida

pois a vida é uma tragédia, que terminará nas lágrimas de um velório
feliz é aquele que consegue transformar sua tragédia em comédia
pois pode pelo menos satirizar as mágoas da vida
já eu, vivo o drama de tentar ser feliz.

A vida é como um Romeu e Julieta
todos sabem que no fim, a morte encerrará o Ato
mas vivem todo o drama da história
apenas para sentir a tristeza do espectáculo

Somos simples almas inglórias, que caminham para a destruição.

Eu sou Todo Nada.

Ato III

Daqui da minha janela
lembro-me dos calores de outrora
quando feliz eu era, apreciando o Sol.
Lembro quando seus raios aqueciam meu coração, e me davam o maior dos prazeres terrenos da vida:
O Amor.

Mas o amor é a ironia do Caos
O amor jamais é simples, e jamais será para sempre.
E talvez seja por culpa desse amor
Que essa carcaça de antigas feridas esteja pesando,
sobre aquilo que sobrou, do meu coração.

Coração esse, cansado, fraco e aleijado.
Que tantas vezes se vendeu a pessoas que não souberam usar dele.
E outras tantas se perdeu para outras que não quiseram possuí-lo
Ou não puderam, ou não deviam.

Um coração negro e triste, forte de várias batalhas,
mas cansado e velho demais para lutar.
Deixa agora os amores a cargo do instinto
e reluta em amar, alguém, outra vez.

Mas cada amor, cada palavra, e cada profecia que esse amor fez
cada um dos amores que ele teve, de algum modo se marcaram
uns, como feridas, outros, como boas lembranças
E são as lembranças, que esse velho e triste coração, se felicita em lembrar.

Pois é dos momentos de alegria que outrora teve, é dos momentos de luz,
que fazem esse velho e fraco coração se esforçar e lutar
e fazer de tudo, para continuar batendo, e talvez ter a chance quem sabe...
de amar novamente
Antes de se perder na escuridão das trilhas da morte.

Eu Sou Todo Lágrimas.

Ato IV

Lembro-me, sentado aqui da sacada de minha janela
de quando comecei essa minha jornada
a jornada da vida, e seus caminhos, belos e convidativos
me chamavam para desbrava-los

Mas os caminhos trouxeram outros caminhos,
e esses caminhos me levaram a desfiladeiros, rios e tempestades
corri, lutei e sofri para vencer obstáculos e mais obstáculos
e isso me tornou, Frio.

Minha frieza, é fruto de um mar de incertezas
É fruto do fato de eu ter me perdido pelos meus caminhos
e agora, não saber voltar atrás, o que me deixa com ódio
Um ódio das minhas tolices.

Tantas incertezas, tantas vaidades
e eu aqui sozinho, pensando sobre quão ou quantas oportunidades perdi
e quantas coisas não deveria ter feito.
Eu sou Todo Tolo.

Não sei o que quero, assim como não sei o que posso querer.
Talvez queira, ou talvez seja apenas valores do instinto.
Coração e Instinto que se colidem fortes
Mas sei, sim eu sei, sei o que não poderei ter.

Não poderei ter o amor, daquela que amei
Não poderei ter o ardor, dos olhos que olhei
Não poderei ter a felicidade, de outra vez, olhar naquele sorriso, e sorrir de volta.
Nada disso poderei ter, por isso... Sou Frio.

E as nuvens negras da noite rodeiam os céus
E escondem as estrelas, e escondem a lua, e escondem a luz
E mais uma noite, as trevas predominam sobre minha alma
E eu Sou Todo Mau.

Escuto o vento agitando os galhos das árvores
Puxo o ar pelos meus pulmões, e sinto o cheiro do orvalho doce e selvagem.
Escuto o silêncio do mundo, quanto todos os seres estão com medo, fome, e frio.
E Eu sou Forte, sou Bravo, e Guerreiro.
Sou o Deus das Noites e da Escuridão.
Eu sou... o nada...
E assim, sempre serei.

Que Assim Seja.

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