A garota da vida

Por Antonio Fernandes

A coronha do revolver acertou mais uma vez em cheio o rosto da garota. Os olhos dela estavam inchados, e pingavam sangue que escorriam das sobrancelhas. Hematomas roxas se espalhavam por todo o seu rosto. Ela chorava.
O homem que a espancava deu um sorriso sarcástico, e com palavras cruéis, falou para ela que, enquanto ela não começasse a se comportar, e aceitasse a vida que ela iria ter dali em diante,  ela seria tratada apenas como a cadela que era.
Dito isso, o homem saiu do quarto, dizendo ao seus agentes para "cuidarem" dela.
O quarto tinha oito camas, uma ao lado da outra. em cada cama, havia uma mulher algemada, com uma agulha espetada no braço. Elas estavam recebendo sua dose de heroína diária, para que ficassem escravas da droga, e conseqüentemente, escravas de seu patrão.
Os dois homens, agentes do "homem", algemaram a garota de costas em sua cama, não sem antes, porém, despi-la totalmente.
As lágrimas misturadas a sangue escorriam pelos loiros cabelos da garota e por sua face, outrora tão bela, agora toda desfigurada.
A menina, que não tinha mais que 17 anos, sentiu um brutamontes montar sobre ela, ouviu o outro rindo, e por fim, sentiu a penetração.
Era um vai e vem tosco e incompleto, chegando quase a doer. Um tédio misturado com ódio tomou conta da garota. Revoltada, ela tentou chutar o desgraçado que a estuprava, mas o homem riu, e em seguida desceu o punho sobre a bochecha dela, fazendo com que os dentes cortassem as gengivas por dentro, e sua boca começasse a sangrar.
Por fim, a menina desistiu, e deixou que aquele monstro a depredasse. Não havia amor naquilo, não havia bondade, era um ato sujo e medonho. Ela não acreditava que estava passando por aquilo. Não podia ser verdade.
Lembrou-se de sua primeira vez, 3 anos antes, quando ela e o namorado, fugindo da casa no sítio dele, foram até um rio próximo, e decidiram nadar nús. Fizeram dentro do rio, e foi lindo, perfeito, parecia que  a vida nunca mais teria maus momentos, e que aquele sentimento de amor e prazer duraria para sempre.
O homem gozou e saiu de cima dela.
Logo em seguida o outro se aproximou, a menina gemeu, e recebeu por resposta uma joelhada na boca do estômago, que a fez dobrar de dor e soltar algo parecido com um ganido, que fez os dois terem um ataque de risos. Novamente ela sentiu um membro nojento penetra-la, e foi estuprada sem dó nem piedade.
Então, acabou, os homens a acorrentaram do modo certo, colocaram a droga na veia dela, e saíram do quarto dando sorrisos sarcásticos.
Por fim, ouviu-se a fechadura estalar, fechando-se.
As outras garotas no quarto olhavam para a menina num silêncio de compreensão e triste. Ela chorou, chorou e chorou. Chorou por seus pais, que deviam estar desesperados, sem saber onde sua filha estava. Chorou por seu namorado, que tanto amava, e que nunca mais iria ver. Chorou por pena de sí mesma. Simplesmente chorou.
Hoje, essa garota pode ser vista em alguma avenida de sua cidade, vendendo seu desvalorizado corpo para quem pagar melhor.

Isso realmente acontece.

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