O homem no metrô

Por Antonio Henrique

A porta da estação se abriu a minha frente. Entrei no metrô e sentei-me no lugar que haviam me dito para sentar.
O relógio em meu peito, escondido pelo sobretudo, marcava uma contagem regressiva. Em minha mão, eu segurava o botão vermelho, pronto para dispara-lo a qualquer instante. Eu suava frio, nos últimos momentos de minha curta e infeliz vida.
Lembrei-me de quando eu era pequeno. Eu e meus irmãos morávamos numa casinha, simples e pacata, em uma vila próxima ao grande deserto. Era uma vida simples, e nós eramos felizes. Tirávamos leite das cabras todas as manhãs, nos divertíamos fazendo os camelos cuspirem, brincávamos o dia todo, e não tinhamos medo do futuro.
Até que os homens maus vieram. Eram soldados, segurando rifles M-16. Eles entraram na nossa casa e começaram a jogar as coisas para fora. Quando minha mãe, chorando, perguntou por que eles estavam fazendo aquilo, eles disseram, com voz seca, que ela rezava para o Deus errado, e ia ter que ir embora.
Minha mãe amaldiçoou a alma deles em nome de Alá  e cuspiu no rosto de um dos soldados. Foi sua maior lastima, pois os homens brutos, que se diziam civilizados da américa, a espancaram, estupraram, e por fim, atiraram nela e a jogaram no nosso chiqueiro.
Fui encontrado semi morto, no fundo de um quarto, nos restantes do que fora meu lar, sem comer a dias e com o rosto todo sujo de lágrimas.
Levaram-me para um centro educacional. Cresci com ódio dos malditos filhas da puta que mataram minha mãe. Estudei as sagradas escrituras, escritas pela própria mão do profeta Maomé, que Ele viva para sempre.
Devo dizer que jamais tive paz em minha vida. Nos meus pouco mais de 27 anos, passei pelo menos 20 tendo pesadelos todas as noites. Eu sonhava que estava naquela antiga casa no deserto, e minha mãe, estuprada, espancada, e com um buraco na cabeça, vinha para perto de mim, me abraçava e me reconfortava, mas na janela da sala, lá estavam os homens maus, rindo de mim, rindo da minha incapacidade de poder salvar minha mãe e meus irmãos.
Agora estou aqui, num metrô na maldita terra daqueles homens maus. Finalmente vou ter minha vingança. Finalmente vou poder ter minha paz.
Fechei os olhos, fiz uma ultima prece de agradecimento a Alá, e a todos os seus Profetas, que Eles vivam para sempre.
E cliquei o maldito botão vermelho.
Pela primeira vez na vida...
Eu tive paz.

Isso realmente acontece.

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