Mundo Apocalíptico

Primeira parte

Os olhos se abriram subitamente. Eram de um cinza esbranquiçado. Uma cicatriz cortava parte do rosto, dando ao homem uma aparência bela e brutal. uma flecha estava cravada em sua frente. Ele deu um gemido, e se levantou lentamente.
Olhou ao redor, corpos baleados, rasgados e espetados se espalhavam por toda a mata. Um deles era apenas a metade de um cadáver. Um braço balançava em alguns cipós perto dalí.
O homem pôs a mão na cabeça, sentindo uma dor latejante. Ele havia levado uma pancada de uma árvore, que, após ter sido arrancada do solo por uma granada, acertou-o na queda, desacordando-o.
Procurou algo no mato nas proximidades, e por fim encontrou. Era um rádio, mas estava danificado, e não poderia ser utilizado novamente.
Limpou a poeira do uniforme, que exibia a inscrição "Capitão Stipp" no peito, junto com sua patente e as bandeiras dos lugares que ele já havia visitado: Brasil, Argentina, Bolívia.
Pegou seu fuzil M-16 no chão, conferiu o cartucho de munições e o viu com apenas seis projéteis. Jogou o cartucho fora, pegou outro completo na mochila e o encaixou.
Observou atentamente a cena, e tentou lembrar do que acontecera. Eles foram surpreendidos por um grupo rival, que avizinhava com a comunidade deles. Os inimigos surgiram do nada, e a batalha fora feroz, lá estava o Sargento Rodrigues com uma vara de bambú enfiada no estomago, e três furos na barriga. Reconheceu alguns dos soldados, Hugo e Henrique . Arrancou as medalhas deles, que continham nome, patente, e   divisão, serviam para que pudessem fazer a contagem de mortos, e saber quem vivia e quem morria.
Gastou cerca de 15 minutos empilhando os mortos que antes foram seus companheiros, arrancando medalhas, e encontrou 3 feridos, um era Soares, que estava em estado grave. Duvidava que ele fosse sobreviver muito mais. Os outros dois eram Borges e Sousa. Um baleado na perna, o outro com um braço quebrado.
Quando terminaram de organizar os cadáveres, sentaram-se para descançar, e Borges pegou um cantil que havia descoberto num morto, dando uma rodada de água ao grupo.
O capitão Stipp riu para sí mesmo, olhando para as bandeiras dos países em seu uniforme. Aqueles países eram memórias do passado. Por mais que o lider deles se orgulhasse de já terem andado tudo aquilo, já fazia décadas que as fronteiras já não eram mais respeitadas. Aquilo era apenas uma sombra de um passado distante, onde a sociedade ergueu prédios majestosos, que arranhavam os céus, quando políticos viviam gordos, e militares serviam apenas para desfiles. Os anos dourados da humanidade.
O Soldado Borges levantou, e foi seguido pelos outros dois. Nenhuma palavra foi dita, começaram a voltar para a comunidade. O mundo agora funcionava assim. Quem podia, protegia a sí mesmo. Quem podia mais ainda, defendia a sí e a seus companheiros, quem mais que isso podia, defendia a sí, a seus companheiros, e a sua família. O restante, havia ou morrido, ou se tornado tão selvagens que era difícil distinguir estes de lobos. Era um mundo cruel.
E o Capitão Stipp ria dessa crueldade toda.
O vento soprou
E a noite caiu.

Por Antonio Fernandes




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